Esta é uma época de que eu gosto.
Quando era miúdo e, ainda, acreditava no Pai Natal, os dias até ao Natal corriam muito devagar.
Na minha casa, na Rua Judite Sobral Garrido, em Alverca, a chaminé existia, sendo que o hábito era colocar um sapato em cima do fogão, que ficava por baixo da cúpula, estreita em demasia para o Santa Claus conseguir por lá passar.
Nessa altura, para mim, o pequeno diâmetro existente não era inibidor de que na manhã de 25 de dezembro a minha prenda, de preferência, as minhas prendas, lá estariam a rir-se para mim.
Claro que a noite era interminável, a hora de lá ir espreitar nunca mais chegava, sendo que o sono estava sempre a lutar contra a expetativa do que o Pai Natal me ofereceria naquele ano.
Não me recordo de nada do que fui recebendo ao longos dos anos, mas quando descobri que eram os meus Pais que lá colocavam as lembranças, desculpei o Velho das barbas brancas por nunca me trazer uma bicicleta ou uma pista de automóveis.
Estava eu a recordar a chaminé dos meus sonhos de miúdo, quando o monitor começou a falar comigo.
“Bom dia Tio”, saudaram-me os três, todos com o tradicional chapéu vermelho, com o pompom branco no cocuruto.
“Bom dia juventude. Que bonitos estão”, exclamei eu. “Estava aqui a recordar os meus Natais quando era bem mais novo do que vocês. Hoje as coisas são diferentes. Proponho que falemos um bocadinho desta tradição, se trocam lembranças, a que horas o fazem, o que acham?”.
“Vamos a isso Tio”, concordou o OLHA. “Na minha casa vamos colocando as prendas à volta da árvore, que vamos abrir depois do jantar. Como é habitual a minha Mãe quer distribuí-las logo às nove da noite, mas o resto da família vai dizendo que é só à meia-noite, sempre uma paródia”.
“Na minha família a situação é diferente”, explicou a RODINHAS. “As prendas também estão à volta da árvore, mas só as abrimos na manhã do dia 25, antes do almoço”.
“Curioso, cada um com uma forma diferente”, começou o ALÉU. “Como o meu Pai é espanhol e a minha Mãe portuguesa, abrimos as prendas em duas alturas, algumas na véspera de Natal e outras no dia de Reis”.
“Isso é uma grande chatice”, riu-se a RODINHAS. “Tens que esperar quase três semanas para receberes tudo”.
“Verdade, mas parece que temos dois Natais”, confirmou o ALÉU.
“Então e vocês, quando eram mais pequenos, faziam carta com os pedidos para o Pai Natal?”.
“Claro que sim”, confirmaram os três. “O problema é que nem sempre chegavam todos”, brincou o OLHA.
“Por uma questão de orçamento”, expliquei eu. “Vocês deviam querer muita coisa”.
Eles riram-se, confirmando que eram uns abusadores nas prendas por essa altura.
“Bem o Natal é só para a semana, mas este fim de semana ainda temos muito hóquei. Vamos lá a isto, eu vou olhar para a 2ª fase da Liga dos Campeões, sendo que vocês vão olhar para a Primeirona e Segundona”.
“Hoje estás muito criativo Tio”, brincou o ALÉU.
“Se temos a Terceirona, temos que ter equivalentes mais acima na hierarquia. Estão de acordo?”.
“Claro que sim. Até logo Tio”, despediram-se os três.
Agora segue-se o almoço – um tradicional alentejano cozido de grão – e vou aproveitar para comprar as prendas de Natal, antes da pretinha começar a rolar.
No GPS deste sábado vamos até ao distrito de Viana do Castelo para conhecermos o Desportivo de Monção, coletividade fundada em 1933, que em 2016 criou uma seção de patinagem.
O município de Monção tem 24 freguesias, tendo como vizinhos Salvaterra do Minho, Arbo (Galiza, Espanha), Melgaço, Arcos de Valdevez, Paredes de Coura e Valença, sendo que o ponto mais alto do concelho está a 1114 metros de altitude em Santo António de Val de Podros.
A vila fica a 136 quilómetros do Porto e a 442 de Lisboa, chega lá com vontade de uma boa refeição, pelo que deixo como sugestão a Taberna da Travessa na Rua Sá da Bandeira.
Sentei-me depois de jantar para preparar a reunião da noite, quando me recordei de um pormenor.
Esta manhã a malta não falou do Mundial, facto impensável nas últimas semanas.
Agora que a prova está a chegar ao fim – só falta a final no domingo – não acredito que hoje e amanhã eles não falem neste assunto, mas o termos falado, no fora da caixa, do Natal, distraiu-os das coisas da bola.
Acredito que se daqui a pouco eles vão sugerir esse tema, podemos falar nele rapidamente, pois eu tenho uma pergunta para eles, encomendada pelo Pai Natal.
Chegou a hora para a nossa conversa da noite, com a habitual pontualidade.
“Boa noite juventude”.
“Boa noite Tio”, responderam eles, bem afinados.
“Tio, esta manhã esquecemo-nos de uma coisa”, começou a RODINHAS. “Não falámos do Mundial!”.
Cá está, até mais depressa do que eu pensava.
“Lembrei-me disso há pouco”, confirmei eu. “Mas não temos muito tempo, porque tenho uma pergunta para vocês. Como és a especialista em futebol…”, afirmação que provocou um grande sorriso nos três, “… faz lá um pequeno resumo desta semana”.
“Vou tentar Tio. A final é a esperada, depois das diversas surpresas que aconteceram, a Croácia passou de segunda em 2018, para 3ª classificada este ano, e o Fernando Santos já se foi embora, como também era esperado”.
“Bom resumo. Uma pergunta para os três, além de outra que já tinha preparada, mas que vou deixar para amanhã. Quem gostavam que fosse o novo selecionador nacional?”.
“José Mourinho”, adiantou o OLHA.
“Rui Jorge”, afirmou a RODINHAS.
“Leonardo Jardim”, avançou o ALÉU.
“Boas hipóteses, mas eu, só para destoar, gostava de ver o espanhol Roberto Martínez no comando da nossa seleção. Vamos encerrar este capítulo, amanhã voltamos ao assunto, até porque é o dia da grande final. Estou embalado e vou já até ao hóquei em patins. Este fim de semana, com início já ontem, temos a 2ª fase de qualificação da Liga dos Campeões, mais quatro grupos de quatro equipas apurando os dois primeiros para a 3ª fase, onde já estão FC Porto, Sporting e Benfica. Nesta temos mais quatro equipas portuguesas, sendo que realizadas duas jornadas o Valongo já seguiu em frente, a Oliveirense está muito perto do apuramento, já HC Braga e OC Barcelos têm contas mais difíceis, mas nada está perdido. Agora é a vossa vez, vamos lá aos jogos realizados por cá. Quem começa?”.
“Eu. A minha atenção hoje esteve nos dois jogos que começaram às três da tarde, tanto no Dragão, como no João Rocha. A lógica imperou, venceram os favoritos, com a curiosidade de terem sido meia dúzia de golos a fazerem a diferença nos dois resultados finais”, concluiu o OLHA.
“Quem se segue?”.
“É a minha vez. Assisti a um belo jogo na Aldeia do Hóquei. Talvez se esperasse uma vitória fácil do líder a Sul da Segundona, mas os açorianos deram uma excelente réplica, mantiveram o resultado sempre em aberto, só baqueando na parte final”, terminou a RODINHAS.
“Excelente réplica, sem dúvida, dos micaelenses. Ora vamos fechar a nossa ronda de hoje com o ALÉU”.
“Também tive oportunidade de ver uma bela jogatana, esta em Vale de Cambra, com uma primeira parte sem golos, nada habitual, mas na segunda metade os forasteiros abriram as hostilidades, consentiram por duas vezes a igualdade, mas acabaram por fazer a festa na parte final da partida, aproximando-se mais da zona das discussões”.
“Muito bem, por hoje estamos despachados. Até amanhã juventude”.
“Até amanhã Tio”.
Eles partiram, eu vou desligar o portátil e amanhã voltamos.
No FORA DO BANCO de hoje vamos ter um miúdo que conheci em 2016, em Ponta Delgada, sendo que estou com a sensação que ele cresceu muito depressa.
Nome Completo: David Silva Veiga
Clube atual: CD Paço de Arcos (Sub15A e Sub17B)
Idade: 25 anos
Local de Nascimento: Amadora
Prato preferido: Fondue
Melhor cidade para viver: Cascais (eu sei que não é cidade, mas é impossível não dizer Cascais)
Livro que está na mesa de cabeceira: não leio, mas o livro que está mais perto de mim é “Tomada de decisão no Futsal”
O filme que já viu mais do que uma vez: Não tenho
Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Joguei no Cascais, Parede e Salesiana
Como/quando chegou a opção de ser treinador: Tirei o curso com 18 anos, a vida como atleta foi curta, e quis dar continuidade à paixão pelo hóquei
Clubes/seleções que já treinou: Parede FC, HC Sintra, AJ Salesiana e CD Paço de Arcos
Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: Nunca treinei seniores, não consigo responder
Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: 3/4h
Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: Camisolas para dentro, ou a entrada das equipas juntas, como no futebol, futsal, etc
Maior tristeza como treinador: Não tenho. Fico triste com alguns comportamentos dos atletas dentro de campo (taticamente, não em termos de disciplina), triste quando perco e sinto que fomos superiores, triste quando perco algum atleta por lesão
E, claro, a maior alegria: Impossível dizer só uma! Várias vitórias importantes, momentos de decisão em fases finais, alegria no dever cumprido quando é partilhado também nos atletas
Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: ofensas entre adversários (jogadores), o apito do árbitro em demasia, más decisões dos meus atletas quando podiam decidir melhor, erros básicos.
A SACADA de hoje aconteceu em Espinho, onde tivemos um jogo que ofereceu dezassete golos, com destaque para José Martins (Escola Livre) que foi batido nove vezes.
Também foi no mesmo pavilhão que O VELHO de hoje foi entregue.
Ricardo Ramos “Piolho” (AA Espinho) fez um poker, mas além dos quatro golos obtidos, marcou aquele que deu os três pontos à sua equipa, quando o tempo já escasseava.