Um Palco Com Frio


Esta foi mais uma semana bem fria, com todos a lamentarem-se das baixas temperaturas.

Claro que este desbloqueador de conversas, tipo “Que frio está hoje”, ou “Que calor!”, serve também para mostrar a nossa impaciência.

O ser humano tem pouca paciência para com quase tudo o que o rodeia, sendo que as condições climatéricas são apenas um dos muitos aborrecimentos da vida.

Eu lido bem com o frio e tenho uma teoria imbatível.

Não, não é aquela frase que eu gosto de dizer “O frio é psicológico”, mas sim apenas uma constatação.

Se estiver muito frio, eu posso sempre vestir mais uma camada de roupa, mais outra e outra.

E se tiver muito calor?

Até posso tirar toda a roupa, correndo o risco de ser preso por atentado à moral pública, mas não vou conseguir ficar confortável.

Enquanto estava a terminar esta minha extraordinária reflexão, o portátil fez aquele ruído estático já habitual.

“Bom dia Tio”.

“Bom dia juventude. Tudo em grande forma?”.

“Siiiiiiim!, exclamaram os três.

“Bolas, até pareciam o Cristiano Ronaldo”.

“Tio, hoje não fui eu que puxei o futebol para a nossa conversa”, riu-se a RODINHAS.

“Não, não era o meu objetivo, mas estiveste bem com a piada. Além de irmos definir o trabalho para o fim de semana, alguém esteve com atenção à Liga dos Campeões que se realizou na 5ª feira?”. 

“Claro que sim, não perdi pitada”, afirmou o OLHA.

“Muito bem, já lá vamos. Primeiro, vamos ao fora da caixa. Quem tem sugestões?”.

“Tio, o que achas desta confusão com o custo do palco, que vai ser o altar para receber o Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude?”, perguntou o ALÉU.

“Boa escolha, mas um tema complicado. Sem querer entrar na questão de sermos um Estado laico, parece-me exagerado o preço da estrutura, mas há várias questões a termos em conta. O anúncio da aprovação da nossa candidatura foi em 2019, pelo caminho tivemos uma pandemia e uma alteração da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, o que complicou as coisas”.

“Estou de acordo Tio. Mas as coisas não deviam ser tratadas com mais tempo?”, perguntou a RODINHAS.

“Totalmente de acordo, mas isso é típico da nossa maneira, bem portuguesa, de deixar tudo para a última da hora”.

“Mas será que vamos ter tudo pronto a tempo?”, questionou o OLHA.

“Não posso garantir. Mas recordo-me do meu tempo de escuteiro… ”.

“O Tio foi escuteiro? Eu também fui… “, confirmou o ALÉU.

“Sim, calma, não me cortes o raciocínio. Nos escuteiros tínhamos dez leis, mas existia uma 11ª que era, o Escuta desensarilhoca-se. Podem ter a certeza que no dia 1 de agosto vai estar tudo a jeito para receber os milhares de peregrinos que nos vão visitar. Só para terminar, eu não sou católico, mas esta é uma oportunidade que o País não pode desperdiçar, principalmente depois de termos assumido o compromisso desta organização”.

“Mas Tio, vai ser uma pipa de massa!?”, argumentou o ALÉU.

“Concordo contigo, mas estas organizações são sempre caras, sendo que nesta altura não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Agora já está e tenho a certeza que vamos fazer boa figura”.

“Eu não sou católica, mas gosto do Papa Francisco”, exclamou a RODINHAS.

“Acho que todos nós gostamos, mas agora vamos ao nosso trabalho. OLHA, diz-nos lá como correu esta 1ª jornada da Liga dos Campeões”.

“Posso dizer uma coisa antes?”, questionou ela.

“Claro que sim”.

“A semana passada meti o pé na argola. Disse que o Feira já estava eliminado da Liga dos Campeões feminina, mas, matematicamente, ainda é possível o apuramento. Fica o meu pedido de desculpa a todos”.

“Mas vai ser possível com uma calculadora das boas”, brinquei eu. “Falámos da feminina, vamos lá à masculina”.

“Começou a 3ª fase da prova, quatro grupos de quatro equipas, com as duas primeiras a apurarem-se para a final a oito. Temos seis equipas portuguesas em prova, sendo que só o OC Barcelos perdeu no João Rocha com o Sporting. Também no mesmo grupo estão Benfica e Oliveirense, que bateram equipas espanholas, o Valongo foi a única formação que jogou fora e também ganhou, enquanto que o FC Porto registou o único empate luso, na receção ao campeão italiano. Era muito engraçado termos todas as equipas portuguesas na fase final da prova”, terminou o OLHA.

“Eu acredito que possa acontecer, crescendo a possibilidade das decisões serem realizadas em Portugal. Bem, acho que estamos com vontade de ir almoçar, certo?”.

“Verdade Tio. O que é o almoço por aí?”, questionou o ALÉU.

“Hoje vou grelhar um piano!”.

“Que bom, quando formos aí da próxima vez fazes isso”, pediu o OLHA.

“Faço sim, e se o tempo estiver bom, vou assá-lo no carvão”.

“Até terça-feira, Tio”, despediram-se os três.

“Um resto de bom fim de semana para a juventude”.

Olhei para o relógio.

Está na hora de ir tratar da refeição, enquanto que a Princesa está a trabalhar na sua edição de vídeos, ajudando empreendedoras, enquanto lá fora nasce um telheiro novo no quintal. 

Hoje no FORA DO BANCO temos um jovem treinador, irreverente e admirador do Jovem Feiticeiro, como eu.

Nome Completo: Pedro Almeida Ferreira

Clube atual: Hóquei Clube da Maia

Idade: 28 anos

Local de Nascimento: Porto

Prato preferido: Arroz de frango da Avó

Melhor cidade para viver: Porto

Livro que está na mesa de cabeceira: “Periodização Táctica” de Julian Bertazzo Tobar

O filme que já viu mais do que uma vez: Harry Potter

Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Sim. Clube Infante Sagres e Hóquei Clube da Maia

Como/quando chegou a opção de ser treinador: Na altura do Covid, o treinador de sub-15 saiu, eu era adjunto na altura (sem curso), tempos difíceis para arranjar alguém, fiquei eu

Clubes/seleções que já treinou: Hóquei Clube da Maia, sub-15 e sub-17

Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: Não é uma questão de ser mais fácil a meu ver, é uma questão do que é que gostamos mais

Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: Como treinador da formação estou mais preocupado em evoluir a minha equipa do que a anular a equipa adversária

Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: Não é bem uma regra, talvez seja mais um conjunto de regras, mas qualquer coisa que faça retirar a alta importância que a equipa de arbitragem tem para o desfecho do jogo 

Maior tristeza como treinador: Ser eliminado na Liguilha de acesso ao nacional no ano passado

E, claro, a maior alegria: Na minha carreira curta de treinador, conseguir cumprir objectivos auto-propostos que muita gente no início achava impossível

Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: Esta é fácil, equipa de arbitragem.

Acho que foi um misto entre a necessidade de uma refeição e um palco ou altar – como preferirem – um bocadinho caro, que nos fez esquecer de distribuirmos as tarefas para esta semana.

Lembrei-me disso quando estava a ver a final da Taça da Liga, sendo que mais vermelho, menos vermelho, bateu-me repentinamente, mas forte: “Bolas, não fizemos a escala para esta semana!?”.

Precisamente para estas necessidades é que serve termos criado um grupo do WhatsApp.

Emergência despoletada, rapidamente chegou a resposta: “Tio, fica tranquilo, já combinámos entre nós. Tu, como castigo, ficas com um jogo da Terceirona. Beijos”, com um smile da RODINHAS na despedida.

Fiquei a pensar, entre um penalty reivindicado em Leiria e duas bolas nos ferros: “Qualquer dia já me posso reformar das Crónicas”.

Enquadramento efetuado neste parágrafo, o último dia de janeiro chegou num apíce.

Quanto estava por conta de outrem, muitas coisas me aborreciam, mas duas estavam no tipo da lista: a segunda-feira e o primeiro mês do ano.

Uma e outro incomodavam-me, por motivos diferentes, mas porque acho que podíamos ter dois fevereiros e três dias de descanso, começando a semana de trabalho à terça, uma discussão que está na ordem do dia, e que eu já antecipei há anos.

“Boa noite Tio”.

“Boa noite juventude. Estava aqui, mais uma vez, numa intensa reflexão, sobre um tema muito importante, mas que eu acho que é apenas uma palermice minha”.

“Mas podes partilhar connosco esse assunto?”, perguntou o ALÉU.

“Sem problema. Tem a ver com a minha antiga intolerância à segunda-feira e ao janeiro, sempre muito grande”.

“O janeiro não me aborrece, mas sobre a segunda-feira estou inteiramente de acordo”, confirmou o OLHA.

“Tio, não andam a falar na possibilidade da semana de trabalho de quatro dias?”, perguntou a RODINHAS.

“Está em estudo essa possibilidade, mas não se esqueçam que se isso se vier a confirmar, significa também um corte no vencimento”.

“Isso já não acho bem!”, exclamou o ALÉU.

“Como diz o ditado, não há bela sem senão, mas se vingar essa possibilidade, espero que a segunda-feira seja dia de descanso. Bem, deixemo-nos de tretas e vamos ao trabalho. Quem quer começar?”.

“Arranco eu, que estive muito atento ao derby realizado no João Rocha, um bom jogo, com grande correção de parte a parte, o que por vezes não acontece nestes jogos, poucos golos, mas com os encarnados, que estiveram sempre à frente, a vencerem, mantendo a primeira posição numa jornada onde os favoritos justificaram essa condição”, terminou o OLHA.

“A mim calhou-me olhar para a World Skate Europe Cup, mas como eu gosto pouco de inglesices, vou-lhe chamar Liga Europa, prova onde está o HC Braga, que não conseguiu garantir a presença na Liga dos Campeões. A prova está nos oitavos de final, com os minhotos a vencerem em Espanha, acreditando até ao fim, virando uma desvantagem com dois golos no último minuto do jogo, vencendo e ficando em boa posição para seguir em frente”, concluiu a RODINHAS.

“Antes de eu ir ao meu jogo da Terceirona, que vocês me atribuíram, como castigo do meu esquecimento de sábado, vamos ouvir as notícias que nos traz o ALÉU”.

“Essa foi gira Tio, foi uma brincadeira”, exclamou ele às gargalhadas, corroboradas por todos.

“Eu sei, era uma provocação. Vamos lá ao teu jogo”.

“Ora eu andei pela Aldeia do Hóquei, onde jogaram dois candidatos à subida na 2ª divisão. Conforme era previsível foi uma partida muito disputada, empate a dois ao intervalo, nova igualdade a meio da segunda parte, sendo que um sprint final vigoroso valeu a vitória aos locais. Esta zona Sul está entusiasmante e já se percebeu que vamos ter uma luta entre várias equipas até ao último segundo”.

“Muito bem, vamos lá ao meu jogo. Eu fui até ao Minho, mesmo ali com a fronteira espanhola à vista. Bom jogo, já percebi que foi o único empate dos jogos que escolhemos, apenas quatro golos, os da casa duas vezes em desvantagem e a ficaram um bocadinho mais longe do líder”.

“Ponte de Lima e Valença, duas lindas localidades, a lutarem pela subida”, avançou o OLHA.

“Nem mais, bem observado. Está na hora de nos despedirmos. Até para a semana juventude”.

“Adeus Tio”.

Altura de encerrar o portátil e ir descansar.

Até porque temos caminhada às 8 da manhã.

Foram dezoito os golos da SACADA desta semana que aconteceram no Pavilhão José Afonso em Grândola, com o destaque para Francisco Chico Vaz (12) e Rodrigo Patrão (3), eles que defenderam a baliza do GDS Cascais.

Esta semana não foi nada fácil atribuir o VELHO.

Aliás, nunca é.

Muitas goleadas, alguns pokers e muitos momentos decisivos.

Por ter sido fora de portas – em Espanha – num jogo de mata-mata, marcar nos últimos segundos, com a pressão de um livro direto na ponta do aléu, Pedro Mendes (HC Braga) fica com a distinção desta semana.

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