55


Será que já escrevi uma das Crónicas sem ser em Oriola?

Para a primeira interrogação de hoje, recorri ao meu arquivo de todas as que já fiz.

Esta aventura começou no final de 2020, mas acho que já produzi esta literatura do stique em vários locais, mas sem certezas absolutas.

Hoje estou em Alverca, na casa da Ângeloca, a Avó da Célia, que deixou em mim marcas de saudade – iguais às do meu Pai – que vão sempre acompanhar-me.

Acho que posso dizer que foi aqui que começou a segunda parte da minha vida, o dormir no chão com a Princesa, os primeiros passos do Ricardo, o mudar para a casa em frente, que foi do meu bisavô, onde vivi alguns meses com os meus pais, quando ainda não sabia ler.

Por muito que Oriola seja a minha paixão terrena atual, esta cidade onde vivi 58 anos deixou muitas marcas, com dois casamentos, dois filhos, muitas alegrias e a tristeza da morte do meu Velho.

A viagem no meu habitual 55 foi tranquila. Sempre que utilizo o Intercidades vou neste lugar, situação que decorreu de uma falta de bateria no telemóvel.

Há uns anos, quando seguia para a Nazaré, percebi cedo que o combustível do Esperto estava no vermelho, pois não tinha carregado nada durante a noite. Como a power bank não tinha seguido viagem, matutei na solução do problema. Olhei em volta e descobri que na fila à frente da minha cadeira – no 55 – tinha uma tomada de corrente. Delicadamente expliquei ao meu companheiro de viagem o que se passava e prontificou-se de imediato a trocarmos de lugar, ficando o desafio superado, pelo que desde desse dia este acento é meu.

Cheguei a Alverca à hora prevista, fui dar um beijo à Velha, seguido de um belo bitoque no Motorista, onde jantei com o Ricardo, ele que me tinha ido buscar à estação da CP.

O tempo passou rápido, as conversas são como as cerejas, lá diz o ditado, quando olhei para o relógio estava em cima da hora combinada com a juventude para a nossa conversa.

O bife estava pela metade, pelo que lá recorri ao nosso WhatsApp. “Juventude, não vou conseguir estar disponível antes do Benfica, falamos depois?”. Segundos depois chegaram três emojis com um ok, pelo que pude dirigir o chiripiti sem correrias.

Instalado na casa do puto de quase trinta e um anos, portátil ligado, fiquei à espera que eles chegassem.

“Boa noite Tio”.

“Boa noite juventude”.

“Então o que aconteceu para te atrasares?”, perguntou a RODINHAS.

“Esqueci-me que o trânsito aqui não é igual ao de Oriola, ainda por cima à sexta-feira”.

“Parece-me uma boa desculpa”, brincou o ALÉU.

“Então e a que horas é o avião amanhã?”, quis saber o OLHA.

“Bem cedo, oito da manhã, com a boleia até ao Aeroporto já combinada com o meu filho. Por isso vamos avançar rápido para ainda ter tempo de dormir um bocadinho”.

“Viste o Benfica?”, quis saber a RODINHAS.

“Só mesmo a parte final. Que tal foi o jogo?”.

“Nada de especial. Uma vitória justa, uns minhotos a serem obrigados a defender muito, mas os encarnados não estiveram especialmente inspirados”, concluiu o ALÉU.

“E o Gonçalo Ramos a marcar mais dois, como já tinha acontecido a semana passada com o João Mário. Bem, vamos despachar-nos para eu ir descansar, pelo que deixamos o fora da caixa para terça-feira. Esta semana vou ficar com a Segundona, até porque vou estar na casa do Candelária, sendo que vocês combinam os jogos que vão ver”.

“Combinado Tio, até terça, contigo já em Oriola”.

“Beijinhos e abraços”.

Portátil desligado, só faltava ativar o alarme do Esperto.

Cinco e quatorze.

Já está.

Já têm passado por aqui grandes craques do hóquei, mas estava a faltar um campeão da Europa e do Mundo, que chega esta semana ao FORA DO RINQUE.

Além disso, fã de Sean Connery e Ken Follet, como eu.

Nome Completo: Nélson Filipe Machado Magalhães     

Clube atual: HC Braga

Alcunha (se tiver): Filipão

Idade: 38 anos

Local de Nascimento: Porto

Clube estrangeiro futebol: AC Milan era o clube estrangeiro que marcava a minha infância

Jogador português futebol: Optando por um da minha posição: Vítor Baía

Jogador estrangeiro futebol: Paolo Maldini (Uma carreira de 25 anos a alto nível num clube só. Irrepetível)

Jogador de outra modalidade, português ou estrangeiro: Alfredo Quintana.

Prato: Carne (de preferência mal passada)

Sobremesa: Leite Creme

Bebida: Coca-Cola

Filme: Ruptura Explosiva (O Original)

Ator: Os mais antigos que faziam 007. Posso destacar o Sean Connery

Atriz: Não tenho

Série televisiva: Seinfeld

Livro: Triologia O Século, Ken Follet

Cidade portuguesa: Porto

Cidade estrangeira: Escolha muito difícil. Jerusalém pela carga histórica

Animais de estimação: Duas cadelas, dois gatos e uma gata

Jogo de computador/consola: Não jogo

Hobbies: Ler, ouvir música, mas sobretudo, estar com os amigos

Outra modalidade desportiva, se não fosse o hóquei: Provavelmente nenhuma

Aquele momento ou jogo, de hóquei, que nunca vais esquecer: Felizmente tive muito momentos bons no hóquei, mas aquele que me ocorre “sem pensar” é o meu último FC Porto – Benfica no Dragão Caixa em Fevereiro de 2019.

Quando me levantei na segunda-feira de manhã, o tempo estava feio, com chuva e vento, o que fazia antever que o voo podia ser cancelado, como veio a acontecer.

Para mim não foi novidade, pois já tinha passado pelo mesmo, se a minha memória não me atraiçoa, em dezembro de 2019. A solução foi a mesma dessa vez, ou seja, uma ida até à Madalena, apanhar o barco para o Faial e autocarro para o Aeroporto da Horta.

O Canal que liga as duas ilhas – lembram-se do nome de livro de Vitorino Nemésio? – estava precisamente como o título, o que tornou a viagem no Cruzeiro do Canal muito difícil e dolorosa, para alguns.

Pelo caminho fui fazendo contas. “À hora a que o avião está previsto descolar, já não chego a tempo do comboio, pelo que preciso de alterar o bilhete para o último Intercidades do dia”.  

Nessa altura surgiu-me uma enorme dúvida. “Será que o 55 está disponível no das 7 da tarde?”. Já no interior do avião, ainda antes de passar o Esperto passar para o modo de voo, peguei no telemóvel, solicitei a alteração e surgiu a altura de alterar a escolha de lugar. Momento de suspense… yes, lá estava ele à minha espera.

Superado mais um desafio, dei por mim a pensar na beleza das ilhas açorianas.

Por causa deste meu amor pelo jornalismo, mas não só, adoro as Ilhas de Bruma, como as designou, nos anos oitenta do século XX, Manuel Medeiros Ferreira, uma canção que se tornou num hino da região. Já foram muitas as vezes que viajei para o Pico, São Miguel e Terceira, mas também já tive o privilégio de conhecer São Jorge, Faial e Graciosa, ficando sempre com uma dúvida: “Qual é a mais bela?”.

Uma questão de muito difícil resposta, pois todas elas têm os seus encantos, mas confesso que a montanha do Pico, com a sua altitude de 2351 metros, visível de todo o lado, desempata a minha escolha. Desta vez ela estava envergonhada, com um manto nebuloso a cobri-la, mas deu para perceber, à chegada, que ainda existe muita neve no alto do vulcão, mas depois escondeu-se e nunca mais foi vista.

Embalado por estes pensamentos, vou levá-los para a nossa conversa de hoje, se não houver algo mais importante para tratar no fora da caixa.

Impreterivelmente à hora combinada as janelas começaram a surgir no monitor.

“Boa noite Tio”, saudação que se repetiu três vezes.

“Boa noite juventude”.   

“Então que tal essa viagem?”, perguntou o ALÉU.

“Muito tranquila e sossegada para lá, atribulada e cansativa para cá. Mas leiam a Crónica desta semana que eu explico mais acima. Alguém tem algum assunto que queira trazer para cima da mesa antes de irmos ao hóquei?”.

Silêncio, pelo que avancei para a minha ideia. “Quem é que já foi aos Açores?”.

“Eu”, gritaram os três em simultâneo.

“Boa, eu já calculava, percebe-se que as vossas famílias são pessoas de bom gosto. Gostava de saber a coisa que gostaram mais quando lá estiveram, sei que não é fácil, mas tentem referir aquelas que mais vos impressionou”.

“Eu gostei muito de um jardim nas Furnas, em São Miguel, que não me recordo agora o nome”, afirmou a RODINHAS.

“Terra Nostra”, esclareci eu.

“Esse mesmo, uma coisa extraordinária”.

“Tomaste lá banho?”.

“Claro que sim, fui prevenida com bato de banho”, riu-se muito ela.

“O que achei mais espetacular foi a Lagoa do Canário, que fica a caminho do Aeroporto de Ponta Delgada. Aquilo parece uma pintura viva”.

“Verdade, também já lá estive com a Princesa. E tu OLHA?”.

“Para mim é a montanha do Pico, aquela altitude, aquele esconde e aparece, a incerteza se ela amanhã vai estar sem nuvens, para mim é maravilhoso”.

“Estou contigo, por lá existem locais belíssimos, mas também sou um apaixonado por essa montanha. Bom, depois de recordarem locais onde já estiveram, digam-me lá que partidas acompanharam esta semana?”.

“Desta vez calhou-me estar atenta às meninas”, começou a RODINHAS.

“Na Liga dos Campeões aconteceu o que era previsível, com o Feira a perder em Espanha e a já não ter hipóteses de seguir em frente. Do lado oposto o Benfica venceu todos os jogos, tendo já garantido o primeiro lugar do grupo”.

“Sabes como vai ser a fase seguinte?”, perguntei eu.

“Sei sim. Agora vamos ter uns quartos de final em duas mãos, já se sabendo que as encarnadas vão jogar com 2º classificado do grupo C, que também já se sabe que são as italianas do Valdagno. Depois as formações apuradas vão discutir o título numa final a quatro”.  

“Boa explicação, não sabia”, afirmou o ALÉU. “Eu estive no jogo da Primeirona na Luz, onde os minhotos voltaram a vencer os encarnados, repetindo o triunfo conseguido em Barcelos, tornando-se na primeira equipa a vencer na casa do Benfica, relançando a luta pelo primeiro lugar, que tem privilégios importantes no play-off”.

“Chegou a minha vez, com a Terceirona na mira. A semana passada falámos aqui do Sobreira, que continua a vencer todos os jogos, mas nesta jornada, as outras duas equipas que ainda não perderam encontraram-se no Seixal, sendo que continuam invictas, ou seja, empataram. A coincidência é que em Grândola, na 1ª volta, o resultado foi o mesmo deste domingo, com os alentejanos na frente, com mais um ponto, porque são menos empatas”, concluiu o OLHA. 

“Caso para dizer, que a relação entre essas duas equipas é amor”, brinquei eu. “Fiquei para o fim, sendo que vou falar da deslocação dos alenquerenses aos Açores. No sábado calhou-me a mim a narração do jogo no concelho da Madalena, na minha despedida desportiva na Rádio Voz de Alenquer, uma partida intensa e com uma vitória justa dos picuenses. Já no domingo não estive presente fisicamente, mas a coincidência foi que os de lá de fora, como dizem os açorianos, voltaram a perder, pelo mesmo resultado e com o mesmo jogador – Afonso Severino, e não Alfonso como surge há anos na ficha da FPP – a marcar o único golo nos dois jogos. Com este resultado fico com a ideia que a luta pelo primeiro lugar pode ficar restringida a Candelária e Turquel. Uma informação, para a próxima Crónica as reuniões vão ser fora do País, mas depois combino com vocês no WhatsApp”.

“Onde vais Tio?”, questionou a RODINHAS.

“Para já é surpresa, não sejas curiosa”.

“Eu cá gosto duma boa surpresa”, brincou o ALÉU.

“Juventude, um resto de boa semana e até sábado”.

“Adeus Tio”, despediram-se eles, enquanto desapareciam da minha vista.

Uma boa altura para ir descansar, pois o esqueleto ainda está a recuperar desta deslocação e já vem outra a caminho.

Esta semana a SACADA escolhida aconteceu na Capital do Móvel, passe a publicidade.

Tivemos quatorze golos no Municipal com destaque para Marco Abrantes (10) e Miguel Mateus (2), defensores da baliza da Briosa.

Um golo na parte final do jogo, na transformação de um livre direto, fez com que a sua equipa mantivesse a invencibilidade no Nacional da 3ª divisão, mantendo a esperança na subida direta.

Para Tiago Nogueira (CRIAR-T) segue O VELHO desta semana.

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