BOLAS PARADAS (Guarda-Redes)… Intuição, Técnica ou… incapacidade adversária?


O tema das “Bolas Paradas” (BP), como referi no artigo dedicado aos marcadores, tem gerado sempre muita controvérsia nesta fase histórica da nossa modalidade em que as defesas dos Guarda-Redes podem significar vitórias em jogos ou até mesmo num campeonato. Vamos, de novo, abordar o tema de forma académica apresentando alguns números que podem ajudar a clarificar a importância das Bolas Paradas na decisão dos jogos da modalidade atual!!!

Comecemos por ver os primeiros 9 de uma lista que contém os 242 guarda-redes que defenderam “Bolas Paradas” esta época em Portugal nos Campeonatos Nacionais de Seniores, nomeadamente Campeonato Placard, 2ª Divisão e 3ª Divisão:

Tomás Teixeira (HC Braga, na foto acima) não sofreu qualquer golo nas 6 ocasiões a que foi sujeito à marcação de bolas paradas (4 LD e 2 PEN). Os números não enganam, mesmo que não signifiquem exatamente aquilo que gostaríamos que significassem e que ressalta desta pequena lista que vemos acima comandada pelo Tomás é que nenhum dos guarda-redes lá mencionados sofreu qualquer golo em situação de bola parada e que têm todos um número muito reduzido de jogos em que participaram… EM 6 jogos, Tomás defendeu 6 bolas paradas mas se olharmos para os números de Pedro Mendes (ADJ Vila Praia), Ricardo Possidónio (HC PDL), Milton Jorge (Candelária SC) ou Gonçalo Garcia (GD Fabril), o que deduzimos é que conseguiram defender todas as bolas paradas marcadas contra si e só o fizeram em UM ÚNICO jogo… Sorte? Intuição? Inépcia do adversário? Nunca saberemos, pela simples constatação dos números.

Olhemos agora um pouco mais “para baixo”, na lista:

Alexandre Maricato (GD Sesimbra, à esquerda) e Vítor Salgado (CART, à direita) tiveram à sua conta a defesa de 34 (36) bolas paradas com a percentagem fabulosa de mais de 80% (82% no caso do guarda-redes sesimbrense), com um valor positivo de 22 bolas paradas defendidas (28-6 para o Alexandre e 29-7 para o Vítor) mas ambos participaram em mais de 20 jogos (24/21), o que significa quase uma temporada inteira… Defender 28 bolas paradas em 34 tentativas (ou 29 em 36) está muito longe de ser sorte e muito mais perto de intuição natural ou muito trabalho técnico…

E se descermos ainda mais um pouco…

O que têm João Peixoto (AD “OS Limianos), Tomás Ventura (Sp. Alenquer e Benfica) e Tiago Simões (CACO) em comum? São os primeiros guarda-redes da lista (dos 242 que defenderam bolas paradas) que foram sujeitos a 50 (João e Tomás) ou mais (56 o Tiago), números que tipificam guarda-redes que o fazem 2 vezes em cada jogo durante toda a época (Tiago fez 24 jogos, o João 27 e o Tomás 31, com todas as provas incluídas). Se tomarmos o exemplo do João Peixoto que fez 27 jogos, todos eles a entrar no 5 inicial, e sofreu 58 golos de bola corrida, tipificamos nele o Guarda-Redes em quem se confia totalmente, não só para sofrer a pressão inicial do adversário mas também para defender bolas paradas e para ser o esteio de uma equipa durante o jogo todo… Não é “por acaso” que “Os Limianos” chegou ao final da época com possibilidades de subir de divisão…

Vejamos agora um Guarda-Redes que se encontra em 75º lugar, sensivelmente no final do primeiro terço da lista: Diogo Almeida (HC Turquel):

O Diogo foi o guarda-redes que ajudou o Turquel a regressar ao Campeonato Placard, esta época… Quando um guarda-redes, ao longo de uma época com mais de 30 jogos, sofre 66 golos de bola corrida (um pouco mais de 2 por jogo!!!!!) e mais 21 de bolas paradas (13 LD e 8 PEN), é sujeito a 66 bolas paradas e defende 2 em cada 3, está garantida na sua equipa uma segurança defensiva digna de registo… OU MAIS!!! O Diogo defendeu 38 Livres Diretos (sofreu 13, 66% de sucesso) e 7 Penaltis (sofreu 8, 47% de sucesso) o que perfaz 45 defesas de bola parada (sofreu 21 golos de BP) para uma percentagem fantástica de 68% de sucesso e com estes números transmitiu à sua equipa, certamente, aquela sensação de termos um “autocarro” à frente da baliza, “veículo” que teve uma quota parte enorme de responsabilidade na subida de divisão do Turquel… obviamente! Um ESTEIO na defesa das cores turquelenses.

Mas (e há sempre um “mas”), o que é que podemos dizer de um guarda-redes daqueles de nos levar à “loucura”???

Pois, é mesmo: PARABÉNS, David!!!! E explico: o HA Cambra foi admoestado com 69 cartões Azuis e sofreu mais de 10 faltas em 20 jogos e mais de 15 noutros 6 jogos, o que significa que sofreu mais 26 livres diretos relacionados com faltas de equipa. Se descontarmos os 2 Livres Diretos que Canavarro teve à sua responsabilidade (defendeu 1 e sofreu golo no outro) e alguns cartões azuis com o jogo parado, o David foi sujeito a 83 bolas paradas… Sim, OITENTA E TRÊS!!!! É obra… Se considerarmos o desgaste emocional que é ser sujeito a tanto livre direto, já para não falar do desgaste físico, e ainda os 62 golos sofridos de bola corrida (3 sofreu o Luís Canavarro) e se considerarmos que apesar de ter defendido 43 LD e 6 PEN (59% de sucesso) sofreu ainda 29 golos de LD e 5 de PEN… Ufa!!! Não há qualquer sombra de dúvida que o David sofreu um desgaste enorme ao longo da época, grande parte dele emocional, o que “mói” ainda mais… Parabéns, David, e parabéns Canavarro, porque é preciso ter um companheiro como tu para, sempre da forma abnegada como te conhecemos, ajudar um companheiro que é também concorrente no lugar da baliza. ABRAÇO aos dois.

E abaixo apresento os 27 guarda-redes que, na minha opinião, são super-especialistas com trabalho técnico apuradíssimo ao longo da semana para serem sujeitos à marcação de bolas paradas, não só pela confiança que os treinadores neles colocam mas também com a confiança deles próprios naquela certeza emocional de que “vou-as defender TODAS”… Craques, todos eles:

E se reduzirmos a lista acima para os guarda-redes que foram sujeito a pelo menos 60 bolas paradas e que o fazem com uma taxa de sucesso acima dos 50%, então estamos na presença de 8 verdadeiros ESPECIALISTAS, guarda-redes que não só transmitem total confiança à sua equipa como “assustam” os adversários encarregados de transformar aquelas bolas paradas. São guarda-redes responsáveis pela defesa das suas balizas em tantas e tantas situações de bolas paradas nas quais, estamos todos de acordo, são um autêntico ” TERROR” dos avançados contrários:

Estou proibido de terminar este artigo sem incluir as palavras de David Nogueira, quando solicitado a dar uma opinião sobre a pressão que sofre um Guarda-Redes de hóquei em patins ao longo de todo o jogo:

“A pressão está inerente a qualquer momento do jogo, independentemente de ser uma bola parada ou não, qualquer falha resulta num golo da equipa adversária. No caso específico das bolas paradas considero que a preparação mental, técnica e de observação são primordiais”

Ainda, e de novo, com a noção de que fica MUITO POR ESCREVER e de que o ideal seria completar este artigo com o testemunho de alguns deles e o de um bom psicólogo especialista em desporto competitivo na perspetiva do guarda-redes, resta-me, então, presentear-vos com as 3 listas que construímos sobre Bolas Paradas…

Pode consultar as 3 listas disponíveis seguindo as ligações existentes nos botões que apresentamos abaixo, sempre com os 242 em cada uma das áreas: Lista Global (Livres Diretos + Penaltis), Lista de Livres Diretos e Lista de Penaltis:

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