Borrego, Amêndoas e Lua Cheia


Nos meus tempos de trabalhador no ativo, este era o fim de semana de que eu mais gostava.

O meio-dia, da tarde, de folga, à quinta, feriado na sexta, ou seja, três dias e meio, mais hora, menos hora sem fazer grande coisa.

Mas nem sempre era assim, pois nos tempos em que estava numa agência bancária, quando nos conseguíamos juntar à mesa do almoço às duas da tarde, numa tradição habitual por estas dias, era uma maravilha.

Durante os trinta e três anos de atividade, foram poucas as vezes que uma mesa de um restaurante não recebeu um grupo de colegas, onde eu me incluía, a celebrar esta data de descanso antecipado, para nós a quinta-feira Santa.

Enquanto recordava essas longas comezainas, liguei o portátil para daqui a pouco receber a juventude, com a curiosidade de perceber as opções gastronómicas deles nestes dias de comemorações de âmbito católico.

Pouco tempo depois eles surgiram, um de cada vez, aguardando que tivessem todos para efetuarem a saudação.

“Boa noite Tio”.

“Boa noite malta bem disposta. Que tal correu essa Páscoa?”.

“Fui tudo normal, principalmente várias horas à mesa”, explicou a RODINHAS com um enorme sorriso. “E a tua?”.

“Foi excelente, com parte da família e deslocar-se até Oriola, sendo que os talheres também tiveram muito trabalho por aqui, com o borrego a ser o protagonista. Já que falamos em comida, quais de vocês não comem carne nesta altura do ano?”.

“Na minha casa comemos sempre peixe na Sexta-Feira Santa”, afirmou o ALÉU. “Mas nos restantes dias comemos o que nos apetece, principalmente o borreguinho”.

“Já sei que nenhum de vocês é vegetariano, mas quem o é, tem sempre esta questão ultrapassada”.

“Na minha casa ninguém liga a isso, mas claro que o borrego faz-nos sempre companhia nesta altura do ano”, afirmou a RODINHAS.

“Tio, já li há tempos o motivo do domingo de Páscoa nunca ser na mesma data, mas já não me recordo. Consegues explicar-nos porquê?”, questionou o OLHA.

“Consigo sim, até porque já sei como vocês são e fiz o trabalhinho de casa. Por definição esta data comemora-se no primeiro domingo de lua cheia, após o equinócio da primavera, que no hemisfério norte acontece a 20 ou 21 de março, ou seja, pode ser entre 22 de março e 25 de abril”.

“Mas já sabem quando vai ser a lua cheia daqui a 100 anos?”, perguntou a RODINHAS.

“Existe uma fórmula de cálculo que o permite fazer, pois aqui temos uma união perfeita entre a matemática e a astronomia”.

“Bolas, lá vem a matemática”, gozou o ALÉU.

“Mas há mais. O dia de Carnaval, apesar de não ser uma festa cristã, acontece sempre 47 dias antes do domingo de Páscoa, sendo que o Corpo de Deus – feriado em Portugal – surge 60 dias depois da data que temos por aqui em explicação”.

“Ou seja, a responsabilidade de todo este calendário é da primeira lua cheia primaveril”, afirmou o OLHA.

“Exatamente”, confirmei eu.

“Tio, já sei que temos que ir ao hóquei, mas sabes do que eu gosto mais nesta altura do ano?”, perguntou o ALÉU.

“Se calhar de amêndoas?”.

“Já me conheces bem, acertaste, sendo que para mim as de chocolate são as melhores”.

“Eu gosto mais das lisas”, informou a RODINHAS.

“Cá para mim umas francesas, daquelas mais fininhas”, afirmou o OLHA.

“As que eu mais aprecio são as caramelizadas. Mas nesta altura também temos os ovos de chocolate, que fazem companhia ao coelhinho da Páscoa, uma tradição que terá começado na Alemanha no século XII. Mas deixemo-nos de gulodices históricas, para irmos ao nosso trabalho. Hoje vai começar a RODINHAS”.

“Já se sabia que ia ser um jogo muito equilibrado na Aldeia do Hóquei”, começou ela. “Se a minha memória não me engana, foi lá que as encarnadas perderam os únicos pontos esta temporada. Um empate ao intervalo, sendo que dois golos em dois minutos, acabaram por fazer o jogo tombar para as forasteiras, apesar das miúdas da casa ainda terem reduzido já perto do fim”.

“O Benfica está muito forte. Quem se segue?”.

“A mim calhou-me um empate em Cacia, acho que sou eu que dou azar”, arrancou o ALÉU. “Mas foi uma excelente partida, com as meninas de Gulpilhares – três com rotina de Inter-Regiões – a adiantaram-se no resultado, as raparigas do CENAP, que também tiveram uma na seleção de sub-17, deram a volta ao marcador, mas quando a vitória já não parecia fugir, mais um golo made in Mealhada fez com que a matemática atribuísse um ponto a cada equipa”.

“Já percebi que estiveste atento à 45ª edição, e apesar de te queixares da ciência dos números, tu até gostas dela”, brinquei eu com ele. “Mas voltando ao assunto, essas miúdas do Gulpilhares fartam-se de jogar. Depois de terem estado na seleção nacional de sub-17, jogaram na sexta-feira, nesse jogo que tu acabaste de descrever, e estiveram de novo em campo, no sábado, num jogo de sub-15 masculino que eu estive a acompanhar. Esta partida decorreu na mesma cidade do Europeu de sub-23, mas num palco diferente, com os da casa a entrarem fortes, conseguiram uma vantagem tranquila, mas na segunda parte os visitantes reagiram bem, mas já não foram a tempo de evitar a derrota. Para terminarmos por hoje vamos lá ver o que nos trás o OLHA”.

“Estou um bocadinho aborrecido. Pensei que na estreia do Europeu de sub-23, que veio substituir a Taça Latina, o caneco ficava por cá, mas no jogo decisivo com os espanhóis não conseguimos vencer e lá foi mais uma taça para casa dos nossos vizinhos. Foi uma final nervosa, com apenas três golos, tivemos em desvantagem, conseguimos empatar, mas não conseguimos marcar nenhum dos três livres diretos que tivemos. Paciência, fica para a próxima”, concluiu ele.

“Exatamente, temos que ser desportistas. Por hoje já está, sendo que para semana voltamos ao formato habitual. Bom repouso para todos”.

“Obrigado Tio, igualmente para ti e até sábado”, despediram-se os três, enquanto iam degustando umas amêndoas.

Também eu fui comer algumas, antes de ir dormir, estas de chocolate.

Hoje no FORA DO BANCO temos um mister lisboeta, que se apaixonou pela ilha do Pico e gosta de um bom cozido, tudo situações em que eu me revejo.

Nome Completo: Pedro Manuel Cardoso Piçarra Morais Afonso

Clube atual: Candelária Sport Clube

Idade: 41 anos

Local de Nascimento: Alcântara – Lisboa

Prato preferido: Cozido à Portuguesa

Melhor cidade para viver: Lisboa

Livro que está na mesa de cabeceira: Dave Grohl – The Storyteller

O filme que já viu mais do que uma vez: Ocean’s Eleven

Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Sim, Paço de Arcos, Benfica, Candelária e Hockey Club Liceo

Como/quando chegou a opção de ser treinador: No ano que deixei de jogar, surgiu imediatamente essa oportunidade

Clubes/seleções que já treinou: Candelária Sport Clube

Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: Seniores

Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: Uma  semana

Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: Limite de faltas, advertências, facilidade como se mostram cartões azuis e se marcam livres diretos, apito para as bolas paradas

Maior tristeza como treinador: Sempre que não ganho um jogo

E, claro, a maior alegria: A cada vitória alcançada

Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: Simulações constantes e tentativa de enganar os árbitros e os adversários.

Foi no Europeu de Sub-23 que encontramos a SACADA desta semana.

Na primeira jornada da competição tivemos dezasseis golos entre portugueses e britânicos, com destaque para os guarda-redes Arran Hall (9) e Benjamin Ganiford (6).

Marcar um golo num jogo decisivo, é uma forte candidatura a esta distinção, muito mais quando o mesmo dá a conquista de um Europeu.

Desta vez O VELHO viaja até Espanha, para ficar em casa de Aleix Marimón, jogador do Igualada.

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