Dieta ao Lado do Nabão


(6/04/2024) Depois de duas semanas de ausência, o regresso muito esperado – digo eu que sou brincalhão – das Crónicas vai englobar muito do que se passou nestes quinze dias, nomeadamente o Inter-Regiões, Páscoa e o Dia das Mentiras.

Antes que a juventude por aqui chegue, fui perceber como se define a data da Páscoa, não só para eu recordar, mas também para informar os que não sabem. Ela ocorre no primeiro domingo após a lua cheia, que acontece depois do equinócio da primavera no Hemisfério Norte, sendo que este ocorreu a 20 de março, cinco depois ela ficou cheia e o domingo seguinte foi no derradeiro dia do trimestre.

Depois de perceber que a Lua gosta de meter o bedelho em tudo, está na hora de receber os meus jovens.

“Bom dia Tio”, gritaram os três.

“Bom dia juventude”.

“Já tínhamos saudades tuas”, sublinharam eles.

“Eu ainda mais, porque vocês foram-me vendo em Tomar, penso eu”.

“Claro que sim, não perdemos nenhum dos trinta jogos do Inter-Regiões”, afirmou o OLHA.

“Fizemos, inclusivamente, uma escala para não perdermos pitada”, referiu a RODINHAS.

“Cada um de nós viu dez jogos, além dos decisivos, a que nenhum de nós falhou”, explicou o ALÉU.

“Querem fazer um balanço da prova?”.

“Temos tudo preparado, mas antes estamos curiosos para saber como almoçaste e jantaste durante aquele calendário tão apertado?”, questionou a RODINHAS

“Pura e simplesmente não o fiz. Eu aproveito estas provas maratona para fazer uma pequena dieta, pois para mim uma refeição de faca e garfo tem que ser com tempo, mas não se preocupem, pois comi uma sopa, duas ou três bifanas e uma dúzia de jolas durante os três dias”, ri-me eu. “Venha de lá a vossa análise à prova”.

“Vamos a isso. Eu fiquei encarregue de escolher a seleção revelação da prova, o que não foi muito difícil, pois a AP Madeira foi sem a mínima dúvida a grande surpresa, confirmando o trabalho que tem sido efetuado nos últimos anos”, finalizou o OLHA.

“Para mim sobrou a desilusão do Inter-Regiões, também uma escolha fácil, pois a AP Porto terminou no 7º lugar, a pior classificação nas quarenta e seis edições já realizadas, a seleção que já venceu mais vezes a prova (20) e que o pior lugar que tinha registado foi um 5º lugar em quatro situações”, concluiu a RODINHAS.

“Para mim sobrou a análise da final”, começou o ALÉU. “Repetiu-se a final dos últimos dois anos, onde cada uma das seleções venceu uma vez, foi um jogo nervoso e sem golos na 1ª parte, na segunda metade a AP Lisboa marcou de livre direto, dilatou a vantagem já nos cinco minutos finais, a AP Aveiro arriscou tudo, conseguiu reduzir já no derradeiro minuto, mas já sem tempo para repetir a vitória de 2023”, explicou o ALÉU.

“Para mim os vencedores são sempre justos, foi uma prova mais equilibrada com este figurino que parece que veio para ficar, evitando as goleadas de outros anos”.

“Tio, temos um desafio para ti. Como estiveste lá, escolhe o jogador mais influente no Inter-Regiões?”, pediu o OLHA como porta-voz do três.

“Bolas, muito difícil. São tantos e tão bons, mas se me obrigassem a escolher um entre 110 atletas, optava pelo João Antunes, guarda-redes da AP Lisboa, jogador do SC Torres”.

“Também gostei muito dele”, afirmou a RODINHAS.

“Assunto encerrado e antes do Plano de Festas, que hoje é da responsabilidade do OLHA, quem é que ainda se lembra da origem do Dia das Mentiras, que já falámos por aqui em outros anos?”.

Silêncio profundo nos três monitores.

“Ok, já percebi que já se varreu da vossa memória. Tudo começou devido a uma brincadeira em França, no reinado de Carlos IX. Nessa época o ano novo era comemorado a 25 de março, com a chegada da primavera. As festas, que incluíam troca de presentes, duravam uma semana e terminavam a 1 de abril. Em 1564, com a adoção do calendário gregoriano, o Rei decidiu que o ano novo deveria passar a comemorar-se a 1 de janeiro. Alguns franceses não aceitaram a mudança no calendário e continuaram com a tradição antiga, sendo que a população, que adotou o novo calendário, decidiu então brincar com os conservadores enviando-lhes presentes estranhos e convites para festas inexistentes. Com o passar do tempo, a brincadeira alastrou-se a outros países da Europa e, mais tarde, para outros continentes”.

“Pois foi isso, agora já me recordo”, afirmou o OLHA. “Bem, esta semana, e já que falamos em Festas, elas vão ser escolhidas por mim. Eu vou ficar com a Zona Sul da Segundona, o ALÉU fica com a Zona Norte, a RODINHAS trata da Terceirona, o AMAGADINHO, como é habitual, vai refletir sobre a Primeirona”.

“Então e eu? Estou de férias esta semana?”.

“Nada disso Tio, ficas com a Liga dos Campeões feminina, onde vamos ter a 2ª mão dos quartos de final”.

“Parece-me bem, vamos às despedidas…”, mas nesta altura fui interrompido pela RODINHAS.

“Espera lá Tio, já nos explicaste que estiveste em dieta à beira do Nabão, mas nós queremos saber o que é o almoço hoje em Oriola?”.

“Bolas, vocês nunca se esquecem da minha ementa ao sábado. Hoje vou fritar umas codornizes, bem temperadas antecipadamente, acompanhadas de um puré de batata, feito de forma artesanal, recorrendo a um tradicional passe-vite”.

“Eu não gosto de puré de batata, mas depois dessa descrição até fiquei com vontade de provar”, riu-se a RODINHAS.

“Mas olha que fica sempre muito bom. Juventude, por hoje estamos conversados, voltamos a encontrar-nos na terça-feira”.

“Adeus Tio”, gritaram os três enquanto desapareciam do meu monitor.

Esta malta nova está em grande forma.

Não é critério, nunca o será, mas alguém que gosta de um bom Cozido tem que estar no FORA DO BANCO.

Nome Completo: João Miguel de Jesus Costa Montez

Clube atual: Ginásio Clube de Coruche “Os Corujas”

Idade: 42 anos

Local de Nascimento: Santarém

Prato preferido: Cozido à Portuguesa

Melhor local para viver: Costa Alentejana

Livro que está na mesa de cabeceira: Roma Sou Eu

O filme que já viu mais do que uma vez: Miracle – Pela Vitoria

Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Sim.Tigres, Stª Cita, Corujas, Odivelas, Lisbonense e Tojal

Como/quando chegou a opção de ser treinador: A opção por treinador começou a fazer sentido desde cedo, porque sempre tive interesse em saber mais do jogo, do treino, mas sempre disse que só seria treinador quando deixasse de jogar, que foi nessa altura que apareceu o convite do presidente dos Corujas

Clubes/seleções que já treinou: “Os Corujas”

Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: A minha experiência como treinador até à data foi com equipas de sub-23 e seniores

Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: Entre observação do adversário e preparação dos treinos, cerca de 5 horas

Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: O vermelho ao treinador e jogador quando, por engano, estão 6 jogadores em campo

Maior tristeza como treinador: As lesões dos atletas

E, claro, a maior alegria: A relação com o grupo/jogadores/diretores

Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: Sofrer golos de situações que foram alertadas e trabalhadas durante a semana.

(8/04/2024) Pensei que ele ainda ia reaparecer com neve no cabelo, mas não, surgiu bem penteado e com cara de quem não vai facilitar a minha tarefa no dia de hoje.

“Boa noite Tio”.

“Boa noite AMAGADINHO. Como correu essa incursão à Serra da Estrela?”.

“Foi muito boa, adoro estar com os meus Avós, nevou muito e fartei-me de brincar, o pior foi mesmo ter que voltar à escola”, lamentou ele.

“Tem que ser, pois a vida não pode ser só descanso e paródia”, ri-me eu.

“Eu sei…, mas o regresso à rotina escolar deixa-me traumatizado”, brincou ele. “Vamos lá falar de hóquei em patins, sendo que vou dividir a minha análise em duas partes”.

“Muito bem, porque tivemos duas jornadas neste espaço de tempo”.

“Precisamente, na primeira, a 23 de março, destaco a derrota do OC Barcelos em Paços de Ferreira, o empate do Murches em Valongo e a goleada na Luz, onde foram marcados quatorze golos. Por falar nisso, sabes se já foram marcados mais golos do que estes, num jogo esta época?”.

Cá está, nem o frio serrano o demoveu.

“Boa questão…, acho que já falámos disso aqui…, vou dizer que sim”.

“Acertaste, tivemos dezasseis golos no OC Barcelos – Carvalhos, que resultou num surpreendente empate a 11 de fevereiro. Nesta jornada vinte e um também tenho que destacar a vitória do Sporting, no João Rocha, frente à Oliveirense, continuando a um ponto do líder FC Porto”.

“Muito bem, vamos agora olhar para a ronda deste fim de semana”.

“Uma jornada com uma goleada, ninguém ficou em branco e tivemos três jogos que terminaram com seis golos, quatro para um lado e o resto, obviamente, para o outro, com os quatro primeiros da tabela a vencerem. Temos seis equipas há muito apuradas, três a lutarem por dois lugares, uma que já desceu e quatro a tentarem a manutenção, um pequeno resumo para as quatro jornadas que restam desta fase”.

“Excelente resumo miúdo. Vamos até à tua meia-dúzia classificativa?”.

“Sim, ninguém já consegue arrancar o Carvalhos do 1º lugar (6 pontos), no 2º lugar está o Turquel (19), seguidos do Famalicense e Murches (26), HC Braga (27) e Riba d’Ave (30)”.

“Por esta semana está terminado, até segunda AMAGADINHO”.

“Espera Tio, ainda falta a ALMOFADA”.

“Tens toda a razão, duas semanas de descanso e já me esquecia”.

“Desta vez a branquinha teve origem em Vale de Cambra, pois foi por lá que Luís Tavares (HC Cambra), mas conhecido por Canavarro, sofreu um golo na derrota frente ao Marinhense. Agora sim Tio, até segunda-feira”.

“Adeus miúdo, grande abraço e obrigado”.

Ainda estou de boca aberta!

Só uma pergunta?

Será que o frio da serra lhe estabilizou algo no cérebro?

(9/04/2024) Regresso ao Inter-Regiões, essa enorme montra de jovens jogadores onde desde 2016 vou encontrando, nos corredores e afins dos pavilhões, Mães e Pais de jogadores, alguns que se transformam em meus amigos no FB, outros que repetem presenças, até porque os seus herdeiros não são filhos únicos como eu.

Num dos curtos espaços de descanso entre a maratona de jogos, encontrei um casal que me cumprimentou, agradecendo o trabalho que a nossa equipa estava a fazer, realçando a importância daquelas pequenas entrevistas no final de cada jogo.

Conversa puxa conversa, explicaram-me que a sua filha estava na seleção feminina de sub-17, mas que tinham um filho mais velho que eu tinha ouvido em Vila Franca de Xira (2019), registo em vídeo que ele tinha guardado.

Também fui confrontado com algumas senhoras, sendo que uma me dizia que eu já tinha escolhido o filho para a zona de entrevistas rápidas, mas que faltava o da sua amiga, conversa que terminava numa enorme gargalhada, onde explicava que não aceitava cunhas, referindo depois, mais a sério, que eles eram dez em cada seleção, mas só havia cinco jogos para eles poderem conversar comigo alguns segundos.

Já por várias vezes o referi, mais do que o prazer que tenho na narração de cada jogo, aqueles três/quatro minutos no final de cada jogo são os mais importantes para mim.

“Boa noite Tio”, saudaram-me os três, com tantos decibéis, que até saltei na cadeira.

“Bolas…, boa noite, um dia destes ainda tenho um colapso cardíaco”, brinquei eu.

“Estavas muito compenetrado”, constatou a RODINHAS.

“Verdade, estava a recuperar mentalmente algumas histórias e conversas com Pais de atletas que estiveram em Tomar, memórias que eu gosto de registar. Vamos ao nosso trabalho, e posso começar já eu com a Liga dos Campeões feminina, onde ficámos a conhecer as quatro equipas que chegaram às meias-finais, sendo que a única equipa portuguesa em prova – Stuart Massamá – foi eliminada na Corunha, depois de já ter perdido por cá. Sinónimo da enorme qualidade do hóquei de nuestras hermanas, as restantes três equipas também são espanholas, Fraga, Palau Plegamans e Vila-sana. Quem se segue?”.

“Posso ser eu Tio”, avançou o ALÉU. “Nas duas últimas jornadas, a Norte da Segundona, a malta de São João da Madeira jogou no seu reduto, venceu e a seis jornadas do fim está com 7 pontos de vantagem sobre a Juventude Viana, cada vez mais perto do regresso à Primeirona, enquanto que a rapaziada da Póvoa de Varzim continua na luta – menos quatro pontos – pela liguilha”, terminou ele.

“Vamos continuar no segundo escalão, mas agora a Sul. Duas vitórias do Candelária, a última frente a um concorrente direto, na Parede, que ficou a seis pontos, deixou os picoenses na frente com mais dois que a malta da tribo do Casablanca, tudo indicando que a luta vai ser entre estas três formações, mas a equipa açoriana pode regressar ao topo do hóquei em patins português sete anos depois”, finalizou o OLHA.

“Agora é a minha vez”, começou a RODINHAS. “Vamos lá olhar para as contas de subida na Terceirona, desta vez começando pela série D, a que fica mais a sul. O Marítimo de Ponta Delgada já subiu, tal a vantagem adquirida, com Sesimbra, Sporting B, Paço de Arcos B e Stuart Carvalhais a lutarem pela segunda posição, lugar que dá acesso à liguilha nas quatro zonas. Na série C a coisa pia mais fino pelo acesso direto à Segundona, a malta de Alcobaça está na frente, mas Tojal, Sporting Torres e as bês de Alenquer e Sintra continuam na luta, que já se percebeu vai ser até ao fim, sendo que o Alcobacense venceu fora nas duas últimas jornadas, mas pela diferença mínima. Subimos no nosso mapa, vamos até à série B onde o OH Sports não dá sinal de franqueza, mantendo quatro pontos de avanço – e menos um jogo – para o Marrazes, com Vila Boa do Bispo, Mealhada e Termas a quererem complicar as contas aos que vão na frente. Por último na série A, o Limianos patina tranquilamente para a subida, com a malta do Lavra, Barcelos B, Penafiel e Marco a esgadanharem-se pela segunda posição”.

“Muito bem, gostei especialmente do esgadanhamento”, ri-me eu com vontade”.

“Antes das despedidas, explica-nos lá essa confusão, à beira do Nabão, entre a seleção do Alentejo e Setúbal”, pediu o ALÉU.

“Não houve problema nenhum, foi apenas uma brincadeira que eu lancei no meio da narração. A seleção da AP Alentejo engloba jogadores de clubes alentejanos e algarvios, mas este ano os dez elementos escolhidos eram de formações do distrito de Faro, já a seleção setubalense tinha dois jogadores de Sines e um de Grândola, ou seja, tinha três atletas alentejanos, daí eu ter dito que a seleção de Setúbal tinha mais alentejanos que a do Alentejo”.

“E bem, coisas da geografia do nosso País”, brincou o OLHA.

“Juventude, até sábado”.

“Adeus Tio”, despediram-se eles, saindo em excesso de velocidade.

Foi fundamental na vitória da Associação de Patinagem de Lisboa em Tomar, voltando duas semanas depois a ser decisivo no dérbi eterno na categoria de sub-15, conseguindo um hat-trick de bola parada.

Para o Martim Nunes (Benfica) – sim, é Martim, não é Rúben – vai O VELHO desta semana.

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