Ainda há uma semana eu me questionava onde já tinha escrito as Crónicas, para dias depois estar a criar a desta semana em Espanha.
Oito anos depois de ter deixado Portugal, com uma pandemia e um casamento pelo meio, a minha filha Cláudia vai ser Mãe, e eu Avô pela primeira vez.
Esta viagem estava prevista para mais tarde, mas perante um problema físico limitativo da capacidade de movimento, associado à gravidez em final de tempo, fez com que antecipasse a visita para ajudar e dar apoio à minha Filhota.
Depois de ter aterrado na quinta-feira ao final do dia, boleia do Rui até casa, colocámos a conversa em dia já madrugada dentro, seguido do primeiro belo sono em terras espanholas.
No dia seguinte comecei a pensar na nossa primeira reunião semanal, procurando encontrar a hora perfeita, atendendo, também, à diferença horária. Peguei no telemóvel e enviei-lhes mensagem para o nosso grupo de WhatsApp. “Bom dia juventude. Se estiverem de acordo falamos na sexta-feira à noite”, sendo que pouco tempo depois chegou a confirmação dos três para as nove da noite.
Antes da nossa reunião, fui dar uma volta com o Rui para conhecer melhor a cidade e parámos no El Muro, uma excelente cervejaria com as tradicionais tapas espanholas. A conversa foi até ao futebol com Vicente, um adepto do Barcelona, a fazer um esforço para eu o entender, com ele a recordar antigos jogadores que passaram por Camp Nou, nomeadamente Figo e Deco. O diálogo animado, com a boa cerveja a acompanhar, fez o relógio esticar-se rapidamente até à hora combinada. “Atrasado, já vos ligo”, seguiu a mensagem, com a resposta a chegar de célere.
Chegado a casa, portátil ligado, com o cabo da alimentação longe dos dentinhos afiados do Miolo – o coelho da Cláudia – logo os avisei “Vamos a isto”. Não demorou muito para eles surgirem no monitor, todos com um enorme sorriso.
“Boa noite Tio”.
“Boa noite juventude”.
Ainda antes de eu me justificar, já a RODINHAS entrava ao ataque.
“Tio, não me digas que também há muito trânsito aí onde tu estás, como a semana passada em Alverca?”, pergunta sublinhada com uma valente gargalhada.
“Por acaso desta vez foi mesmo a conversa e as jolas, mas também não me atrasei muito, acho que ainda é o jet lag”, brinquei eu.
“Mas estás mesmo aonde?”, questionou o ALÉU.
“Estou em Cullera, uma cidade que fica na Comunidade Valenciana, bem junto ao mar e com uma praia enorme”.
“Isso é que vai ser tomar banho”, gozou ele.
“Tu sabes bem que eu não gosto de praia, mas olha que a temperatura por aqui tem estado muito boa, sendo que ontem havia muita gente por lá a tomar banho”.
“No inverno?”.
“Por aqui a água está sempre muito agradável, chegando a atingir vinte e muitos graus no verão, altura que o areal fica a abarrotar de gente”.
“E quando regressas?”, perguntou o OLHA.
“Ainda não sei. Para já vou esperar até o miúdo nascer, o que deve acontecer em breve. Depois vou ficar enquanto a Cláudia precisar da minha ajuda”.
“Como se vai chamar o puto?”, quis saber a RODINHAS
“Vai ser Francisco. Como já não é cedo, como vocês sabem, mais uma hora do que aí, vamos guardar o fora da caixa para terça-feira. Antes de fazermos a nossa escala, quem é o porta-voz da Liga dos Campeões que se jogou ontem?”.
“Hoje sou eu”, explicou o ALÉU. “Tivemos a 4ª jornada da fase de grupos com as equipas portuguesas a conseguirem três vitórias, dois empates e uma derrota, essa que aconteceu no duelo entre Benfica e Oliveirense, com os encarnados a vencerem, garantido o apuramento para a final a oito, sendo que as restantes equipas nacionais continuam com hipóteses de lá chegarem”.
“Muito bem. Então esta semana eu fico com a Terceirona, o OLHA com a Primeirona, a RODINHAS com a Segundona e ALÉU com a Liga Europa. Estão de acordo?”.
“Tudo bem Tio, até terça”.
“Esperem, não vos tenho perguntado como estão a correr os estudos”.
“Uma maravilha”, despacharam-me eles, enquanto desapareciam muito rapidamente.
Fiquei na dúvida se eles estavam a falar verdade.
A paixão por este desporto está espelhada no FORA DO BANCO desta semana.
Nome Completo: Nuno Vicente de Mendonça Carrão
Clube atual: Parede FC
Idade: 42 anos
Local de Nascimento: Lisboa
Prato preferido: Cogumelos Shimeji “à Bolhão Pato” (desde que sou vegetariano)
Melhor cidade para viver: Várias: Oeiras (a atual), Porto, Póvoa de Varzim, Cascais e Estoril
Livro que está na mesa de cabeceira: São vários… conforme o interesse: “Libertem as Crianças – a urgência de brincar e ser ativo” (Carlos Neto); A Arte de Caminhar – um passo de cada vez (Erling Kagge); Histórias do meu diário e mais uns escritos (Nuno Frazão) e Sapiens de animais a Deuses – História Breve da Humanidade (Yuval Noah Harari)
O filme que já viu mais do que uma vez: Vários, mas destaco “O Gladiador”
Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Sim, AJ Salesiana, Sporting CP e GDS Cascais
Como/quando chegou a opção de ser treinador: No final da 1ª época de Sénior e quando estava a meio do curso de Educação Física e Desporto, tive um convite de duas pessoas que já me conheciam do tempo dos Salesianos e que estavam naquela altura responsáveis pela formação do CD Paço d’Arcos (2001). Não hesitei! Deixei de jogar e comecei a minha formação/carreira como treinador
Clubes/seleções que já treinou: Clubes: CD Paço d’Arcos, GDS Cascais, Parede FC, CH Carvalhos, HC Paço do Rei, C Infante de Sagres, ACR Gulpilhares, CD Póvoa, HC Penafiel, ACSP Alfena, HC Santa Cruz. Seleções (Treinador Adjunto) Nacionais Sub-20 (2012/2013/2014/2015)
Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: NUNCA é fácil. Ser treinador é um desafio imenso seja qual for o nível de competição. Sempre que as relações humanas estão envolvidas a tarefa é muito difícil. Treinar equipas em cada fase etária tem as suas particularidades técnicas, táticas, condição física, bio-psico-social… é sempre um enorme desafio, mas também por isso é tão apaixonante ser treinador de Hóquei Patins
Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: Depende do contexto. Nos escalões de formação a preparação da equipa tem no “seu” jogo o foco da preparação, por isso é uma preocupação diária e ao longo da época. O Jogo serve nesses escalões como avaliador do desenvolvimento que os atletas/equipa estão a ter.
Mas mesmo nos escalões onde os resultados têm uma preponderância maior, a preparação tem que ser diária e constante. E com tão poucas horas de treino o enfoque é mais uma vez no estado de forma e trabalho dos atletas e da equipa, podendo haver uma preocupação estratégica para o próximo adversário. E essa preparação vai ocorrendo ao longo da época, havendo nos treinos situações que salientem determinados aspetos da estratégia para o jogo com esse adversário específico. Mas a preparação da equipa e do seu jogo é o mais importante, e ocorre diariamente ao longo da época
Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: Tenho proposta para várias, mas julgo que a mais urgente é a sinalética para a marcação das bolas paradas de penalti e do livre direto, voltar a ser ao apito do árbitro
Maior tristeza como treinador: Não conseguir contribuir para um organização/dinamização/divulgação GLOBAL desta tão bela e rica modalidade desportiva que é o Hóquei em Patins
E, claro, a maior alegria: Poder influenciar e formar jovens através da prática de uma modalidade desportiva tão peculiar como o Hóquei em Patins
Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: A cultura desportiva, ou a falta dela, que por vezes presenciamos. Seria tudo muito mais fácil, melhor e mais bonito de se ver durante um jogo de Hóquei em Patins. Temos ainda um longo caminho a percorrer nesta área.
Já perfeitamente adaptado a Cullera, os dias têm corrido tranquilos, com o Francisco a adiar, dia após dia, a data do nascimento, e com o sol a brilhar, apesar de o vento estar demasiadamente interventivo.
Desde que soubemos da gravidez, com março como mês previsível, começamos com os palpites para o dia do nascimento.
Dentro desta brincadeira com o calendário, eu e o Ricardo apostávamos no 18 – o dia em que ele nasceu – enquanto que a Cláudia não queria um Peixe, sendo que a preferência era que já fosse a primavera a recebê-lo.
Para criar suspense, vou ficar por aqui, tipo “não perca as cenas dos próximos capítulos”.
Será que vai nascer hoje?
Por ser dia de Liga dos Campeões, combinámos falar depois do futebol, logo depois de terminarem os jogos. Liguei o portátil, depois do apito final, com eles a surgirem pouco depois.
“Boa noite juventude”.
“Boa noite Tio”.
“Antes que perguntem, sobre o Francisco falamos no fim.”
“Mas essa cara de felicidade diz-me que temos novidades”, afirmou a RODINHAS.
“Eu estou sempre feliz quando falo convosco, já falamos dele. Vocês sabiam que hoje é o Dia do Pi?”
“Pi? Aquele tigre do filme?”, questionou o ALÉU.
“Já percebi que a matemática não é o teu forte”, ri-me eu.
“Eu sei, é aquele valor infinito que arredondamos para 3,14”, afirmou o OLHA.
“Verdade, é isso mesmo. Pi é a 16ª letra do alfabeto grego e ao longo dos tempos os estudiosos cominuam a tentar calcular o valor exato, cujos cálculos revelam que pi apresenta triliões de casas decimais”.
“Bolas, isso é bué”, brincou a RODINHAS.
“Neste dia os fãs da matemática e das ciências exatas também celebram o aniversário do nascimento de Albert Einstein que nasceu em 1879”.
“Esse sei quem é, aquele senhor que aparece com o cabelo em pé em todas as fotografias”, afirmou o ALÉU com uma grande gargalhada.
“Esse mesmo. Bem, vamos lá ao nosso trabalho desta semana, podendo começar o OLHA”.
“Eu andei pelo Minho, jogo entre terceiro e segundo classificados, que acabou por favorecer o líder. Grande incerteza no marcador, na segunda parte os da casa conseguiram dois golos de avanço, mas os leões conseguiram empatar no último quarto da partida”.
“Já eu estive na Aldeia do Hóquei”, começou a RODINHAS. “Jogo grande a Sul da Segundona, com os primeiros classificados a encontrarem-se. Curiosamente também vi um empate e também a cinco golos, uma partida onde os da casa tiveram quase sempre na frente, mas nos últimos segundos os açorianos conseguiram a igualdade”.
“Mais longo foi o meu jogo, no país onde está o Tio. Jogo da Liga Europa, com os bracarenses a jogaram em Igualada, excelentes nos primeiros trinta minutos, mas depois o fator casa pesou, sendo que para a segunda mão levam dois golos de desvantagem”.
“Muito bem juventude, estão cada vez melhores. Na Terceirona rumei a Caldas das Taipas e querem saber uma coisa?”.
“Não me digas que empataram a cinco!”, palpitou a RODINHAS.
“Miúda, joga no Euromilhões. Foi mesmo isso, com a coincidência dos locais também terem estado sempre na frente, consentido o empate dos penafidelenses na parte final do jogo. Para terminarmos, fica a informação de que o Francisco nasceu hoje ao início da tarde e estão os dois bem”.
“Tio, que coisa, podias-nos ter dito logo quando chegámos”, ralhou o OLHA.
“Fui para criar algum suspense”, ri-me eu.
“Agora vamos deixar de te tratar por Tio, mas sim por Avô”, gozou o ALÉU.
“Cá por mim pode ser, sem problema”.
“Já viste o miúdo?”, questionou a RODINHAS.
“Sim, vim há pouco de Valência onde ele nasceu, bem comprido e bonito…”.
“Como o Avô”, referiu o OLHA, enquanto me mandava beijos pelo ar.
“Lindo como os Pais”, expliquei eu. “Juventude, vou descansar porque o dia de hoje foi muito intenso e emocionante. Até sábado”.
“Xau Avô”, gozaram eles na despedida.
Mais um degrau subido na escada da vida.
Esta semana a SACADA aconteceu no pavilhão da Luz, dezanove golos marcados, com destaque para as guarda-redes do CENAP, Matilde Santos (11) e Mafalda Alho (7).
Nesta altura ainda não se sabe, mas o golo do luso-italiano Alessandro Guzzo (Candelária) em Turquel, nos últimos segundos e na transformação de um livre direto, pode valer uma subida à primeira divisão.
Para ele vai O VELHO desta semana.