Lágrimas à Chuva


As imagens que vi esta semana na televisão, sobre as inundações na área metropolitana de Lisboa, fizeram-me recordar situações que já vivi, mas sem as consequências que elas mostraram.

Além das cheias de 1967, de que me recordo vagamente, tenho na memória uma situação que me aconteceu quando estudava no ISEL, isto no ano de 1983.

Eu deixava o carro na estação da CP em Alverca, apanhava o comboio e regressava pelo mesmo trajeto.

Naquele dia, apanhei uma boleia em Lisboa e quando dei por isso estava em casa dos meus Pais, sendo que só nessa altura me recordei que o meu Fiat 127 estava na estação, uma zona que sempre inundava em situações de grande pluviosidade.

Chovia muito, hesitei em ir buscá-lo, mas resolvi, em boa hora, que era melhor ele dormir à porta de casa, uma decisão que me valeu não ir apanhá-lo sabe-se lá onde.

Enquanto saltitava por entre estas recordações, o portátil começou a apitar, pois tinha chegado a hora da nossa reunião.

“Bom dia Tio”, gritaram os três, como quem me quisesse acordar. 

“Bom dia juventude”, desculpem lá. Estava aqui embrenhado em memórias de inundações”, expliquei eu.

“Tio, que chuvada, eu deixei o carro na Faculdade, pois na zona onde moro há quase sempre problema, desta vez não aconteceu nada, mas não arrisquei”, explicou o OLHA.

“Fizeste bem, quando é assim, mas vale ir a pé ou aguardar que a situação acalme. Já percebi que está tudo bem com vocês, vamos lá ao fora da caixa de hoje”.

“Tio, temos que falar do Mundial!”, exclamou a RODINHAS.

“Que novidade, já sabia, mas dividam as vossas intervenções, rápidas, entre o jogo com a Suíça e o de mais logo”.

“Foi uma bela jogatana com os helvéticos, mas daqui a pouco com os marroquinos vai ser mais difícil”, começou o ALÉU.

“Eu só falo sobre o jogo de hoje, que vai ser o único dos quartos de final que vai ficar resolvido no tempo regulamentar… e vamos ganhar, claro”, exclamou o OLHA.

“Hoje vencemos de certeza…”, gritou a RODINHAS, “… e sobre o jogo com os suíços, eles são bons no chocolate, mas nós é que lhe demos um e dos grandes”, brincou a RODINHAS. 

“Muito bem, curtos e sucintos, vocês são um espetáculo. Vamos lá ao plano de trabalhos para hoje, que não é muito complicado, pois em dia de Taça de Portugal vamos trazer mais logo três jogos dos 32 avos de final da prova, enquanto eu faço o resumo de mais uma jornada da 1ª divisão no feriado. De acordo?”.

“Vamos nisso Tio, Portugal, Portugal, Portugal…”, gritaram os três enquanto desapareciam do monitor.

Altura para grelhar umas espetadas, almoçar e esperar que seja um grande jogo frente a Marrocos, com o passaporte carimbado para as meias-finais.

No GPS deste sábado vamos até ao distrito de Évora para conhecermos o Clube de Futebol de Estremoz, coletividade fundada em 1925.

O município tem nove freguesias, tendo como fronteiras os concelhos de Sousel, Fronteira, Monforte, Borba, Redondo, Évora e Monforte

A zona é conhecida pelas suas jazidas de mármore branco, conhecida como o mármore de Estremoz, cidade que dista 170 quilómetros de Lisboa e 350 do Porto.

Para alimentar o estômago vou sugerir um local onde estive há pouco, onde se come bem e a preços acessíveis.

A sugestão vai para as Bifanas de Estremoz, que fica junto ao Rossio local.

Já sabia que o estado de espírito para a reunião da noite estava dependente do que acontecesse à tarde no Catar.

Vi o jogo em casa, como o faço sempre nestes momentos de grande emoção, com a companhia da minha Princesa, mais o Pablo e o Pizzi que não gostam de futebol.

Gosto de me isolar nestas situações, ralhar, proferir impropérios, elogiar, gritar, tudo isto sem incomodar ninguém.

Quando o jogo terminou a desilusão atingiu-me, mas nestas alturas só temos que reagir, pois todos temos os nossos problemas, como se as dificuldades da nossa curta passagem por aqui, estivessem dependentes de o resultado de um jogo de futebol.

Reflexão efetuada, liguei o portátil e fiquei à espera que eles chegassem à minha companhia.

Minutos depois lá estavam eles, como era de esperar, os três estavam com cara de enterro.

“Boa noite juventude”.

A resposta foi um silêncio ensurdecedor.

“Então malta, a vida continua para lá da bola que entra ou não entra”.

“Desculpa Tio, boa noite”, acabaram por cumprimentar os três, onde se percebia que uma lágrima escapava das suas caras.

“Vamos lá, vamos reagir. Quando duas equipas se encontram, num jogo a eliminar, só uma pode ganhar…”.

“Nós sabemos isso, mas perdermos contra uma equipa que é muito pior que nós, custa muito perder assim”, choramingou, ainda, a RODINHAS.

“Verdade, mas a seleção marroquina tem o mérito e a humildade de perceber que os outros são melhores, lutando com as suas armas. Foi assim com a Bélgica, com a Espanha e hoje frente a Portugal”, argumentei eu.

“Mas o árbitro também não esteve nada bem”, exclamou o ALÉU.

“Vocês já sabem que eu não gosto de falar das arbitragens. A única coisa que eu critico, não só neste jogo, como em toda a prova, é o pouco rigor no aspeto disciplinar”.

“Então e aquele penalty que nem o VAR visualizou? E achas bem um árbitro argentino, de uma seleção que ainda está na prova?”, gritou o OLHA.

“Vamos ter calma, já nada há nada a fazer. Os erros existem, percebo o vosso desagrado, mas agora está na hora de irmos ao hóquei”.

“Tens razão Tio, acho que ainda não consegui digerir a frustração desta derrota”.

“Tudo bem. Só trinta segundos para a RODINHAS falar do jogo entre a Inglaterra e a França”.

“Olha Tio, foi um grande jogo, com indecisão até ao fim, uma péssima arbitragem – desculpa lá Tio, mas teve que ser – e os gauleses vão seguir em frente, na defesa do seu título”.

“Por esta escapas”, comentei eu a sorrir. “Vamos lá então até à jornada a meio da semana na 1ª Divisão. Se puder dizer assim, não houve nenhum resultado fora das previsões antes de eles começarem. Muitas dificuldades para o FC Porto em Tomar, o Benfica a suar bastante para vencer em Riba d’Ave, com o OC Barcelos a vencer num duelo minhoto, num jogo só com dois golos. Uma palavra para o Parede que venceu em Murches, empurrando os locais mais para baixo e ganhando um espaço mais tranquilo na classificação. Quem se segue?”

“Posso ser eu Tio”, avançou o ALÉU. “Na festa da Taça estive em Alenquer, onde jogaram os dois segundos classificados da Zona Norte e Sul da 2ª Divisão. Já se sabia que ia ser uma partida muito equilibrada, só um golo na primeira parte, para os sanjoanenses, mas na segunda metade começaram a chover golos, mas os forasteiros tiveram, quase, sempre em vantagem e seguem em frente na prova”.

“Chegou a minha vez, agora que já esgotei as lágrimas que tinha. O meu foco esteve em Alcobaça, onde me recordo de ir lá numa visita de estudo para visitar o Mosteiro. Jogo intenso, na segunda parte com duas paragens por falta de energia energética, fruto de um temporal que se instalou na zona. Os picarotos fizeram jus ao favoritismo, principalmente, porque aproveitaram bem as duas situações em que estavam em superioridade numérica”, terminou a RODINHAS.

“Hoje fecho eu”, afirmou o OLHA. “Estive em Ponte de Lima, uma magnífica vila, um jogo que durou até ao fim, tanto que foi preciso um prolongamento para termos uma decisão. Começaram bem os limianos, reagiram os forasteiros, sendo que no tempo extra, a maior experiência da malta de Turquel resolveu a questão”.

“Juventude, amanhã é outro dia. Deitem a cabeça na almofada, descansem bem, pois amanhã é outro dia. Às 11 horas cá estaremos. Até amanhã”.

“Até amanhã Tio”, despediram-se eles com a tristeza no olhar.

Desliguei o portátil, fiquei um minuto a olhar para a chuva que cai lá fora, pensando como foi possível perdermos este jogo.

Uma lágrima escorreu-me, lentamente, sobre o rosto, ela que esteve aqui escondida dos miúdos.

No FORA DO BANCO de hoje temos um técnico da zona do leitão, mas que gosta mais de bacalhau.

Nome Completo: Miguel José Moura Ferraz

Clube atual: Hóquei Clube da Mealhada

Idade: 38 anos

Local de Nascimento: Coimbra

Prato preferido: Bacalhau à Brás

Melhor cidade para viver: A minha vila, Luso

Livro que está na mesa de cabeceira: Nenhum, odeio ler livros

O filme que já viu mais do que uma vez: O Gladiador

Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): HC Mealhada e FC Bom Sucesso

Como/quando chegou a opção de ser treinador: Gosto pelo treino

Clubes/seleções que já treinou: HC Mealhada

Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: Seniores

Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: 5 horas

Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: Apito nas bolas paradas novamente

Maior tristeza como treinador: Todos os atletas que desistiram por não jogar nas minhas equipas

E, claro, a maior alegria: Nunca ter levado um único cartão azul ou vermelho

Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: A falta de seriedade de atletas e árbitros.

Com a ajuda de um prolongamento, que acontece muitas vezes na Taça de Portugal, A SACADA de hoje aconteceu na Sobeira, com quinze golos, com destaque para o guarda-redes da equipa da casa, Alexandre “Alex” Costa, que foi batido oito vezes.  

Muitas vezes é difícil atribuir O VELHO do dia.

Normalmente a distinção vai para casa de um ou de uma jogadora que esteve com a pontaria afinada.

Hoje, depois muita ponderação, o prémio vai para Benjamin Oldroyd (HC Mealhada), que marcou perto do fim em Campo de Ourique, levando a sua equipa para a próxima eliminatória da Taça.

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