Mais de dois anos depois do início das Crónicas, quase sempre ao sábado e domingo, hoje arranca uma versão 2.0 – à boa maneira informática – com apenas uma edição semanal, publicada à 4ª feira.
Para não ser redundante sobre o que expliquei na última semana, o novo calendário é uma forma que eu encontrei – para mim e para a juventude – de termos mais tempo para as nossas tarefas do dia a dia.
Ao sábado vamos ter a nossa primeira reunião semanal, que vai decorrer daqui a pouco, mas antes tenho um cão a ladrar ao meu lado.
“O que se passa Pablo? Ainda é cedo para irmos almoçar!”.
Este animal tem um relógio suíço dentro da barriga, não se descuidando com as horas das refeições, tão guloso que ele é.
O portátil começou a dar indícios de que vou ter visitas, com um ruído de fundo a surgir do fundo das suas entranhas.
“Boa tarde Tio”.
“Boa tarde juventude. Está tudo bem?”.
“Tudo em grande”, confirmou o OLHA. “Ainda estamos a ambientarmo-nos a este novo calendário semanal. Uma colega da Faculdade convidou-me para o seu aniversário logo à noite, eu disse-lhe que ao sábado não podia, mas depois é que me recordei do novo horário das nossas reuniões”.
“Normal, foram muitas semanas na nossa anterior rotina. Mas não deixamos de ter tempo para um espaço fora da caixa. Quem é que quer lançar um tema?”.
“Tio, gostava de falar sobre a ida do Cristiano Ronaldo para a Arábia Saudita”, referiu a RODINHAS.
“Vamos a isso. Qual é a tua opinião?”.
“Acho que ele pode ir para onde quiser, a carreira é da responsabilidade dele, mas porque motivo afirmou, durante o Mundial, que era mentira?”.
“Provavelmente, nessa altura ainda não estava confirmada a transferência”, argumentou o ALÉU.
“Então mais valia não ter dito nada, fechava-se em copas e deixava correr o assunto”, contrapôs o OLHA.
“Concordo com vocês em tudo, mas a gestão de cada situação está dentro da estratégia de cada um. Nós, se fosse o caso, atuaríamos doutra forma, mas temos que respeitar as decisões de cada um”.
“Certo, mas o que mais me faz confusão é a possibilidade do capitão da seleção nacional puder fazer campanha por uma candidatura contra a de Portugal para o Mundial de 2030”, explicou a RODINHAS.
“Podemos não achar correto, eu também não concordo, mas ele é que sabe da vida dele”, referiu o ALÉU. “Aliás, não se sabe se é verdade, pois os sauditas andam um bocadinho descontrolados. Uma fonte do Al Nassr confirmou, mas no dia seguinte, outra comunicação do clube, negou. Acho que eles têm que se entender”, brincou o OLHA.
“Nunca lá tiveram um jogador desta categoria, ainda estão a apalpar o terreno. Na minha opinião, o facto de o Cristiano ter optado por um campeonato de baixa qualidade, pode fazer com que o novo selecionador o deixe de fora da convocatória, mas isso só saberemos lá para Março”.
“Tio, já que falaste do espanhol, o que pensas daquelas declarações do José Mourinho?”, perguntou a RODINHAS.
“Calma lá miúda, hoje já chega de bola, guardamos esse assunto para 4ª feira. Chegou a altura de dividirmos o nosso trabalho, mas conforme falámos para esta nova versão, com apenas uma edição semanal, vamos olhar para as provas no global, sendo que podemos distinguir um jogo, se acharmos que há um destaque evidente. Estão de acordo?”.
“Sim”, confirmaram os três, com os decibéis em alta.
“Então esta semana eu vou olhar para a Taça de Portugal, com vocês a rumarem além-fronteiras para espreitarem os campeonatos espanhol, italiano e francês”.
“Combinado Tio, até quarta-feira”, despediram-se eles enquanto desapareciam em grande velocidade.
Para mim ainda está meio estranho, esta metade de conversa ao sábado e a segunda a meio da semana.
Tudo não passa de uma questão de hábito.
Por acaso não é de propósito, mas hoje no FORA DO BANCO temos mais um adepto, como eu, de um bom leitão.
Apenas coincidência, apesar de termos nascido os dois na capital.
Nome Completo: Filipe Teixeira Rebelo
Clube atual: Ginásio Clube de Odivelas
Idade: 50 anos
Local de Nascimento: Lisboa
Prato preferido: Leitão da Bairrada
Melhor cidade para viver: …o campo… em Sintra
Livro que está na mesa de cabeceira: normalmente 4: 1 romance, 1 técnico, 1 de BD e um sobre um tema de interesse – depois escolho o que ler conforme o tempo e a disposição… Neste momento:
- Simon Scarrow, The Legion
- Filipe M. Clemente e Rui Silva, Avaliar para Treinar
- Bill Watterson, O Essencial de Calvin & Hobbes
- Stephen E. Ambrose, Pegasus Bridge
O filme que já viu mais do que uma vez: Schindler’s List
Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Sim, no Sport Lisboa e Benfica e na Associação Académica da Amadora
Como/quando chegou a opção de ser treinador: Desde muito cedo que quis ser treinador (primeiro curso com 19 anos), mas só após o “regresso ao hóquei em patins pela mão do meu filho” é que comecei a treinar
Clubes/seleções que já treinou: HC Sintra, UDC Nafarros, APAC Tojal, GC Odivelas
Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: Desafios completamente diferentes, mas os seniores serão, porventura, mais lineares.
Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: Resposta simplista – 2 a 3 horas; Resposta mais correta – 1 a 2 microciclos.
Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: No mínimo acabar com a luz/bandeira das 9.ª, 14.ª, etc., faltas; no limite, acabar com a exibição do número de faltas – o árbitro e a mesa podem comunicar de forma a que haja a confirmação de que a falta de equipa foi registada pela mesa, mas não haver informação para dentro da pista do n.º de faltas de cada equipa – a identificação da 9.ª, 14.ª, 19.ª, etc., faltas alteram o comportamento dos árbitros (e das equipas) e a visualização da diferença do n.º de faltas entre as equipas leva os árbitros a, frequentemente, e, acredito, subconscientemente, procurarem equilibrar as coisas, ou seja, é uma informação que condiciona os árbitros e, consequentemente, o jogo – as faltas têm que ser todas “iguais”
Maior tristeza como treinador: Sempre que um jogador abandona a modalidade desiludido ou zangado com ela
E, claro, a maior alegria: Ver jogadores que oriento(ei) a crescer para atingirem o seu potencial
Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: Uma resposta dividida:
- Violência (de qualquer agente, verbal ou física, incluindo a bancada)
- Prepotência (dos árbitros)
- Displicência (dos jogadores).
Quando pensei em alterar a publicação das Crónicas para as quartas-feiras, confesso que não me recordei de um compromisso que tenho nesse dia às 9 da noite, uma hora de conversa de bem e maldizer, com o Joaquim e o Miguel na Rádio Voz de Alenquer.
Falei com os miúdos quando isso me saltou à frente dos olhos, procurando saber o que lhes dava mais jeito, sendo que optámos por fazer a nossa reunião à terça-feira, por volta das nove da noite, sendo que os jogos realizados à quarta-feira não entram no nosso escrutínio semanal.
Quando escrevi escrutínio, lembrei-me do questionário que os futuros membros do Governo português – enquanto tivermos este – têm que preencher.
Por acaso já li e até estou com medo de ser convidado para qualquer coisa, pois acho que bastava apenas uma pergunta: “É uma pessoa honesta?”.
Ri-me desta minha parvoíce e dei um pulo quando eles me entraram pelo ecrã.
“Boa tarde Tio”.
“Boa tarde juventude. Está muito frio por aí?”.
“Bastante, mas até pensei que fosse pior!”, explicou a RODINHAS.
“Como diz o Tio, o frio é psicológico, mas a temperatura baixou muito. Eu até fui buscar uma daquelas golas, que nos oferecem no Natal, para proteger o pescoço”, riu-se o OLHA.
“Bolas, está um gelo!”, exclamou o ALÉU. “Eu gosto é do sol. Até pode chover muito de vez em enquanto, mas frio é que não”.
“Muito bem, já percebi que vocês estão quase congelados, mas temos que trabalhar. Vamos lá ao fora da caixa de hoje, que já tinha sobrado de ontem por proposta da RODINHAS, a questão das afirmações do José Mourinho. Avança lá miúda”.
“Eu fiquei um bocadinho aborrecida com as declarações dele, até porque sou uma grande fã do seu trabalho. Foi convidado, não quis aceitar, guardava para si o que lhe disse o Fernando Gomes e assunto estava encerrado”.
“Estou totalmente de acordo”, confirmou o OLHA. “Há situações que devem ficar dentro de quatro paredes, pois se foi ele que recusou, porquê vir agora falar disso?”.
“Uma questão importante, mas o ego de Mourinho é maior do que o bom senso, a regra mais importante num ser humano”, afirmou o ALÉU.
“Estou de acordo, mas deixem-me dar a minha opinião. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol tinha encerrado o assunto à nascença se tivesse dito, com clareza, que fez contactos com José Mourinho, ele não aceitou ou não pode aceitar e, de seguida, convidámos Roberto Martínez”, argumentei eu.
“Mas depois lá vinha alguém dizer que o treinador espanhol foi uma segunda escolha…”, referiu o OLHA.
“Para encerrarmos o tema, em minha opinião, o melhor é sempre dizer a verdade, pois ninguém pode ser o primeiro em todas as alturas da vida, mesmo que nos esforcemos muito”.
“Grande verdade Tio”, exclamou a RODINHAS.
“Mas vamos ao que interessa, começando já pela eliminatória da Taça de Portugal que ficou entregue a mim. Como era esperado, com os clubes da 1ª divisão a jogarem fora de casa, as surpresas podiam acontecer. A principal ocorreu no Estoril, onde a Juventude Salesiana eliminou a Oliveirense, estando sempre na frente do marcador e só permitindo a diferença mínima no resultado já nos últimos cinco minutos. Para reforçar a importância deste resultado, os estorilistas, no seu campeonato, em seis jogos em casa não venceram nenhum e são o lanterna vermelha. Como é habitual dizer-se nestes casos, tivemos mais três tomba-gigantes, Oeiras, Física e Turquel, quatro formações da Zona Sul da 2ª divisão. Uma referência para o Murches que se está a dar bem com os ares alentejanos. Venceu em Sines e marcou dez golos, sendo que na eliminatória anterior tinha vencido em Beja, conseguindo marcar por vinte vezes. Para terminar, a informação de que o sorteio da próxima eliminatória realiza-se amanhã às 6 e meia da tarde. Quem se segue?”.
“Posso ser eu”, avançou a RODINHAS. “O meu foco foi o campeonato italiano que está na fase regular. O Trissino, campeão na época passada, tem apenas uma derrota e lidera com grande avanço, no início da 2ª volta. O play-off transalpino é diferente, apurando seis equipas diretamente para os quartos de final, sendo que temos um play-in entre as equipas que ficarem entre o 7º e 10º lugar para ocuparem as últimas duas vagas pela disputa do título. Por esta altura temos seis formações a lutar pelos restantes cinco lugares, isto porque o Trissino está praticamente apurado. Uma curiosidade, o líder e o Hockey Forte não tem nenhum empate ao fim de quinze jornadas”.
“Ainda não explicámos, mas fizemos um sorteio para saber quem ficava com o quê esta semana e calhou-me a Liga de nuestros hermanos. Por aqui o campeonato também já está na segunda metade, com o Barcelona a dominar, apenas com um empate em 14 jogos, cinco equipas praticamente apuradas e quatro na luta pelas restantes duas vagas. O Vilafranca é o último só com um ponto, enquanto que o Liceo ainda não empatou nenhum jogo, mas já perdeu três vezes e está no 2º lugar”, concluiu o OLHA.
“Eu fiquei com o campeonato gaulês, o único dos quatro – incluindo o português – que não tem play-off para encontrar o campeão. Confesso que gosto mais deste modelo que valoriza a regularidade”, argumentou o ALÉU.
“Estou contigo, também gosto mais desse, mas os interesses comerciais, obrigando a mais jogos entre as melhores equipas, fazem com que se opte por esse figurino”, expliquei eu.
“Então em França estamos ainda na 1ª volta, uma prova com 11 equipas, com o Saint Omer na frente, seguido do Quévert e do Noisy Le Grand, três formações que ainda não perderam. Curiosamente, o Villejuif que está no 5º lugar, também ainda não foi derrotado, mas tem quatro vitória e quatro empates, enquanto que o Nantes é o último – só desce um – mas está longe de estar condenado.
“Muito bem juventude, esta semana já está. Voltamos a falar no sábado”.
“Chau Tio”, despediram-se eles em excesso de velocidade.
Confesso que ainda estou a estranhar este novo horário.
Mas como escreveu Fernando Pessoa, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Esta semana a nossa SACADA aconteceu no sábado em pleno pavilhão da Luz, com um quarteirão de golos num jogo da Taça de Portugal feminina.
O destaque vai para as guarda-redes do Arazede, Ana Sofia Canoso (17) e Íris Nobre (8).
Em Valado de Frades quase que tivemos mais uma surpresa, com a Biblioteca a chegar aos três golos de vantagem a 5 minutos do fim, com os minhotos a marcarem por três vezes na parte final – os dois últimos no derradeiro minuto – e a levar o jogo para prolongamento.
No período suplementar chegou o golo solitário de Vítor Hugo (HC Braga) que leva O VELHO desta semana.