Sílvia Coelho, a mulher dos cinco “C”: Competência, Critério, Carácter, Confiança e Coragem…


Sílvia Coelho é uma mulher portuguesa que escolheu uma atividade dominada pelos homens e provou que a qualidade não tem qualquer relação com o sexo de uma pessoa, antes define-se pelas 5 palavras que podem ler no título deste artigo.

A Sílvia é uma amiga mas a decisão de fazer este artigo nada teve a ver com a nossa relação, antes foi uma forma de a homenagear, aproveitando outra homenagem que o SI San Juan, jornal digital daquela província argentina decidiu fazer tendo em atenção a participação de uma mulher na prova de maior envergadura mundial a seguir ao Mundial, a Taça Intercontinental.

A Taça Intercontinental é a competição para clubes de maior envergadura no Hóquei em Patins mundial onde estarão presentes Porto e Barcelona (respetivamente campeão e semi-finalista da WSE Champions League europeia) e Union Vecinal de Trinidad (UVT) e Lomas de Rivadavia (respetivamente campeão e vice-campeão sul-americanos) para decidir qual é a melhor equipa do mundo da modalidade. Nesta importantíssima competição mundial estarão presentes como juízes um dos melhores árbitros italianos (Franco Ferrari), um dos melhores árbitros espanhóis (Rubén Fernández), um dos melhores árbitros brasileiros (Fernando Madureira) e quatro dos melhores árbitros argentinos (Jorge Ramiro Cruzado, Carlos Gustavo Fernández, Leandro Sebastián Davegno e Paulo Giraudo) e, claro, a “nossa” Sílvia Coelho.

Ao longo dos anos tive oportunidade de assistir a diversos jogos nos quais a Sílvia apitou e o que me impressiona verdadeiramente é a forma como ela lida com os jogadores, com um jeito decidido, confiante, corajoso, autoritário mas sempre humano, aceite (quase) sempre pelos jogadores pela forma como ela consegue falar com todos, algumas vezes com um sorriso que desarma completamente qualquer um, outras com um autoritarismo que impressiona por ela jamais ser arrogante ou presunçosa, presumida ou pretensiosa. A Sílvia tem uma vantagem enorme que é o facto de ter sido jogadora e entender perfeitamente algumas das ações mais complexas da nossa modalidade e é uma mulher de consensos e que os procura constantemente apoiada na verdade e que por vezes tem de ser mais autoritária a fazer cumprir as regras. É amiga dos seus amigos, e pessoa totalmente acessível mas já a vi assumir dolorosamente um erro e até martirizar-se nos momentos que se seguem ao final dos jogos, momentos que ultrapassa com coragem e abnegação, humildade e carácter porque tem uma única certeza: cada ação que tomou em jogo, cada apito que foi ouvido no pavilhão, tudo o que fez como juíza de um jogo de hóquei em patins foi baseado na verdade do que ela vê, sem a distorcer e confiante somente nos seus olhos e no seu parceiro de equipa.

Não vou cometer o erro de dizer que nunca falhou porque isso não acontece… os árbitros são seres humanos e como todos os outros também erram. A diferença está em que na Sílvia (e felizmente em muitos árbitros portugueses e pelo mundo fora) o erro é assumido mas raras vezes revertido, ficando a árbitra com o ónus do prejuízo de uma das equipas. Sou amigo da Sílvia e, como tal suspeito, mas tenho de fazer jus à verdade e dizer que tenho visto poucos erros por ela cometidos e quando os vejo percebo que, como pessoa honrada e honesta, “engole” em seco, pede desculpas com um simples olhar que os jogadores mais experientes entendem imediatamente e quando é assim, perdoam também porque reconhecem que, tal como com eles, falhar e reconhecer é o que permite tornar perfeita a nossa ação futura no desempenho da função que cada um ocupa na modalidade e na vida.

A Sílvia não é super-mulher mas é uma árbitra de grande qualidade, merecedora do meu respeito, amizade e orgulho por ser uma mulher de “excelência” num mundo dominado por homens.

Abaixo, passo a entrevista que a Sílvia deu ao “Servicio Informativo de San Juan”, jornal digital argentino que vai cobrir a Taça Intercontinental.

ENTREVISTA À SI DE SAN JUAN

“A Sílvia é uma profissional e demonstra-o ao falar e ao exercer a sua profissão. Apaixonada pelo hóquei em patins e pelo seu trabalho, foi jogadora durante muitos anos, mais precisamente guarda-redes da modalidade, e hoje pratica arbitragem já há mais de 20 anos. O seu início na profissão deveu-se à vontade de aprender, desejo que ainda hoje mantém. Naquela época sentiu a necessidade de entender o hóquei em todas as suas vertentes para entender melhor a modalidade, todas as jogadas e componentes do desporto, por isso fez o curso de treinadora e também o de arbitragem.

A ex-jogadora de hóquei sobre patins disse-nos o que significa para ela fazer parte deste torneio internacional: “Também é indescritível, é uma sensação de prazer, de honra. É o reflexo do meu trabalho e da minha dedicação a este desporto e sei que esta é a única forma de poder fazer parte de competições internacionais deste nível. É notável quando as pessoas que trabalham comigo me dão esta força e esta oportunidade de competir a um nível superior e em competições tão importantes como esta“.

De mediato, relembrou um pouco de sua história no mundo da arbitragem referindo-se aos diferentes torneios de que fez parte: “Para mim não é a primeira competição internacional, sou árbitra internacional desde há 8 anos. Tive a oportunidade de participar nas principais competições europeias (Liga dos Campeões masculina e feminina), nas Finais-Four da Liga Feminina em Gijón e em Palau e apitei nos campeonatos europeus e na final do Mundial em Cantoni , que foi incrível. No final, estas nomeações são a forma de saber que estou fazendo um bom trabalho.”

No que diz respeito ao Aldo Cantoni, Sílvia desfez-se em elogios ao Colosso do Parque de Mayo: “É incrível. No mundial estive em vários partidas no Cantoni e nos outros pavilhões de San Juan. Estive na final do mundial e é algo incrível, é o ponto alto, é o máximo que vi em pessoas assistindo a um jogo de hóquei em patins ao vivo. Também se referiu aos espetadores: “O povo de San Juan vive o hóquei de uma forma muito intensa, muito boa, é realmente um espetáculo. As pessoas vibram e fazem vibrar o estádio durante o jogo, é muito bom, é uma promoção para o hóquei que é fantástica, as pessoas vivem o hóquei de uma forma que é muito intensa e com grande paixão.” O Aldo Cantoni é um pavilhão que todos os jogadores de hóquei mundial, todos os diretores, todos os treinadores, todos os artistas e também o público gostaria de estar pelo menos uma vez na vida porque é algo muito bom, muito bonito, muito rico… É como digo e repito: é um ESPETÁCULO. Jogar ou apitar no Cantoni é uma experiência única, algo que se lembra para a vida inteira e é um momento que nunca vais querer esquecer na tua vida.

Sílvia está habituada a ser a única mulher em diversos torneios e encara isso com grande naturalidade, refletindo que seu trabalho se resume a uma coisa: fazê-lo bem. Nesta linha, ela assegurou que: “Para mim, ser a única mulher no corpo de árbitros não é novidade nem algo que me traga desconforto, estou habituada. Em Portugal, sou a única mulher atualmente na primeira divisão”… referiu-se depois às suas nomeações internacionais: “A nível mundial, estou muito agradecida a todos os presidentes e diretores que me dão a oportunidade porque tenho a sorte de que todos os diretores que trabalham comigo não se fixam se és mulher ou homem, para eles sou um árbitro… e também dos meus colegas, sempre recebi respeito, o que é muito bom.”

Sobre a sua nomeação para esta Taça Intercontinental, ela afirmou: “Para mim, significa que estou trabalhando bem e dando garantias para que os presidentes possam apostar no meu trabalho. Coloco muita dedicação e sempre vou trabalhar para fazer bons jogos, procurando a excelência e acompanhando a evolução do hóquei. Estou muito grata pelo que faço e, em arbitragem, o que importa é a competência”. Para concluir a sua visão em relação ao seu trabalho, ela acrescentou: “Os árbitros são como os jogadores, como os treinadores, a evolução acontece com muito trabalho e eu trabalho muito, dedico-me muito, estudo, assisto a jogos, vou à academia. A evolução é ponto a ponto, pouco a pouco, para alcançar cada vez mais alto e chegar à excelência. Acredito que todos os dias podemos evoluir um pouco mais, precisamos trabalhar para isso sempre, sempre. Quero continuar dando o meu melhor e continuar aprendendo para ganhar mais experiência e me tornar uma árbitra melhor”.

Sobre as suas expectativas para esta Taça Intercontinental, Sílvia Coelho disse: “Acredito que será algo maravilhoso, incrível, encantador. Tem todos os ingredientes necessários. Há jogos muito interessantes, equipas muito boas com jogadores de alto nível, com um padrão muito elevado de hóquei, num pavilhão místico da disciplina, num ambiente que certamente será muito bom. E com certeza todos daremos o nosso melhor para fazer desta Taça Intercontinental uma competição que traga orgulho a todos no mundo do hóquei”.

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